Dienstag, Dezember 29

Rotina: abrir as janelas, as árvores um pouco distantes, me distraio e faço as higienes matinais, abro um pouco os braços, passeio tímida por entre os cômodos, deito-me com mamãe, leio um pouco, café à mesa, a conversa arrasta as horas, as horas arrastam o dia, os dedos, as mãos, pés, o corpo um pouco preguiçoso. Aqui ainda nada se faz.

Donnerstag, Dezember 24

caminhadas,

Sinto frescor agora, e sei que é vento vindo de terras boas, que fazem bem ao coração. Sou invadida de água, úmida e fértil estou aqui no de dentro, ainda não sei bem nomear o que vivo, essa estranha sensação de estar viva no lodo, no lamaçal que tem sido a minha vida. Terra árida deixei para trás, agora preciso afundar meus pés nessa outra terra que se mostra (veja meu bem, brotos e raízes crescendo).

Para poucos, ora pois, desejo peregrinações e desalojamentos muitos, incômodos e nascimentos com as vacas  - que o medo não nos assalte e nos impeça a fazer,

Montag, Dezember 21

 .



- Você ainda está jejuando — perguntou o inspetor, — quando é que você vai parar?
- Desculpem-me todos — sussurrou o artista da fome, e apenas o inspetor, que aproximou o ouvido da grade, o entendia.
- Certo — disse o inspetor, e pôs um dedo na testa, para dar a entender ao pessoal o estado do artista da fome, — nós o desculpamnos.
- Na verdade, eu queria que vocês admirassem o meu jejum — disse o artista da fome.
- E nós o admiramos — disse o inspetor, condescendente.
- Mas vocês não devem admirá-lo — disse o artista da fome.
- Ora, então nós não o admiramos — disse o inspetor — e por que não devemos admirá-lo?
- Porque eu tenho que jejuar; não posso de outro jeito — disse o artista da fome.
- Ora vejam só — disse o inspetor — e por que você não pode de outro jeito?
- Porque eu — disse o artista da fome, levantando um pouco a cabecinha, e falou fazendo um bico com os lábios, como para dar um beijo, diretamente no ouvido do inspetor, para que nada se perdesse, — porque não pude encontrar a comida que eu gosto. Se eu a tivesse encontrado, pode crer, não teria feito nenhum estardalhaço e teria comido até me fartar, como você e todos os outros.

Essas foram as últimas palavras, mas ainda nos seus olhos quebrantados estava a convicção firma, porém não mais orgulhosa, de que continuava a jejuar.


Kafka - Um artista da fome.

E eu continuo a jejuar...

Essa coisa encarar-se,

As palavras fedem, empoeiradas que estão, habitam esquinas, denunciam falta de habilidade, falta de jeito, nulidades muitas até, mas persisto aqui, não posso deixá-las ao vento, não posso desgarrá-las, não permito, luto, esbravejo.
Um tema, é isso necessário, por deus, um algo que soe almas minhas. Sim, poderia lhes contar o meu ontem, como quando no banho, casa deserta, dei-me conta as solidões, aqueles horrores todos, os meus fantasmas ressurgindo das coisas bobas, minha infelicidade solitária essas frustrações. Assim é preciso para que tu vivas, não disse a poeta? Nesses vazios ocos mistérios e na tua ausência talvez me faça mais, eu que sempre desejei ser uma daquelas poeiras na vastidão do céu, perdida na imensidade porém estando com outras estrelas. Enfim, estava lá e corroía-me inteira, sem habitares, estando fundida ao oco, nada mais separava-me, eu era aquilo e não havia fuga. Quando experimento, conheço. Conheci e pensei - coisa bizarra essa. Tanto por vir, oxalá esses medos transformem-se. Lembrei do filme do Lars Von Trier, o ocorrido, o é daquela forma - não há fugas, meu bem, não basta conhecer, é estar de pé e de frente e suportar o pavor o gozo a morte a não-fuga a vontade de estar ausente sendo presente. Saí do banho aos prantos e derepente havia um espelho e no espelho havia uma imagem turva, contornos e eu aparecia e eu estava lá e eu de certa maneira não pertencia àquilo que via, era tão frágil não palpável tantas mentiras... Lembrei-me alguém: 'tenha força o bastante para encarar-se ao espelho e indagar-se a si'. Indaguei indagamos não é mesmo companheiras? Cheguei bem perto e olhei minhas pupilas retraídas um pouco maiores retraídas novamente, não aceitava aquela superfície toda que me cobria, não aceitava o longo dos dias, um dia é demais já por estar vivo, não é? Então porque me privas da eternidade e me mantém aqui, presa a um fio que sem sei nomear, presa a um sem-nome presa a lastros de existência um pouco vivida pacata inerte quase nada e muita raiva e muito pesar e de muita dor fez-se aquele diálogo, as vozes gritavam palavras soltas elas mandam eu deitar-me de vez em quando. O momento era aceitar o refletido, o que eu refletia - os meus olhos bem próximos negros mergulhei num vazio preto preto como o céu de fim-de-noite mas restrito ao corpo. O meu corpo ainda não habita o mundo.
Habitares, cantares, sopros, lágrimas, olhos nos olhos, corpo a corpo, tête-a-tête e saí pra dar um respiro na superfície. Coberta de lama, limpei um pouco o rosto,


Samstag, Dezember 19

oui oui.

Hoje letras fogem aos dedos, prometi, fiz pacto comigo mesmo - preciso continuar, minha garantia de sobrevivência. Queria te contar uma história digna, falar das minhas impressões cotidianas, minhas poucas filosofias, dedicar-lhe meus sóis de verão, mas você bem vê, manter-me viva é a maior tarefa que tenho agora. Necessidade de continuar, preciso pôr para fora verborragias vômitos engasgos (os centenas só das últimas semanas). Convivências poucas e leves me foram tão raras - sentia o abraço da pessoa.
Ontem fez ciúmes na outra fazendo-me carinho. Percebi egoísmo pensando - não, não faria por gratuidade, tem haver sempre ganhos relação troca pessoa-pessoa. Satisfaz carências carências de covardia na vida disfarças ser bem-resolvido, até pode achar fugir dos outros e assim fugir de você, mas a merda é que Camila percebe e disfarça - não conheço nada.

Sonntag, Dezember 13

zeladora.

Hoje, de perfil, vê seu rosto refletido nos olhos dos outros. Sente nojo do que se passa no de dentro de si e talvez no de dentro do outro. Sabe sim, sabe sina maldita essa que a acompanha quiçá tivesse pensado em um agrado em um desinteresse olhar descompromissado, derramar seu corpo sujo e pesado num abismo escuridão - já estivestes lá tantas vezes, o porco dos dias, porque não visitar novamente?
Não sei, de fato, pensar nessas loucuras que nos cobrem turvam o brilho opacidade, sempre gostastes de aparentar-se neutra, qualidades sobrepostas nas roupas tentando esconder o algo de divino o algo templo o algo coberto de tantas agonias, por deus, tantas cascas quinas encontros esconderijos entulhados abarrotados de coisas tem a sensação de que se furasse forte a barriga tudo espirraria, todo aquele líquido mórbido do caminhar dos dias, as suas sujeiras, o seu macado disse ordenou-lhe: por favor, manda-me enxotar todos os seus podres acumulados, todas essas pedras que faz questão de arrastar por cima de si, aposenta esses teus vícios, o passado precisa ser enterrado, querida, chore um pouco, faça um bem para si pelo menos uma vez, uma vez é preciso um a mais sei que estás exausta e não consegue dormir há dias como dormia antes, as coisas mudam, meu bem, provavelmente serás uma velha rabugenta se me deixares aqui empoeirando, peço que me dê aval de ação.
O senhor contou-me depois, olhando-me fixamente: o mundo não precisa habitar tão dolorosamente você. Sinta o leve do bater a água quebrar pedras ou jogue o mundo fora, se quiser posso ajudar-te nessa tarefa, posso apoio um tiquinho de água no deserto e só, o resto é com você, não posso interferir no seu mundo.
O meu mundo não é universo, é fechado, cercado ilusões essas que brincam e se fazem sérias derepente. Cubro-me de respiros esdrúxulos para evitar o sufocamento. Causa mortis - pensaste demais, meu bem, agora é seu corpo lá embaixo e vamos passear um pouco, conhecer o mundo sofrimento tantos desastres agonizos - mostras-te me o agonizo das pessoas do mundo naquele minuto. Um jovem gritou - pá. Um velho sorriu um pouco e foi fechando o olho devagar. Um senhor pediu socorro - encarava-se frente a frente consigo não tinha mais mulher nem filhos nenhum álibi - solidão de morte. Tantos piscavam, uns morriam vendo o céu, queria te amar muito agora, sabia? Gostaria eu mais forte menos frágil - acho que essas madrugadas têm me deixado um pouco zonza e fragilizada. Agora o inferno é estar enfrentar as fraquezas não tenho mais desculpas, acabaram-se todas, é fim de festa, não resta mais nada para ser no lado de fora, é juntar os restos e aproveitar as migalhas. Como é isso de construir paredes eu não sei, tantas coisas por saber, ignorâncias, os pecados por purgar, não sei de que deus eu falo, não sei dos meus afetos, meus amores, minhas paixões. Eu te sofri e enfiei nos buracos pregos redondos médios normais juntei um pedacinho de sua casa desabando. Tentei evitar suicídio de individualidade mas ela já começa a feder um pouco. De novo: passando com o rolocompressor eu lá embaixo tens medo de suicida mórbida de boutique ou pensas que isso é verdade? Nada sei do gozo do cotidiano, dos prazeres de massas, sempre em minhas costas o peso do rolo. Caminho um pouco, paro e deixo-me esmagar. Assim foi minha vida toda, interessante eu estar aqui cinco e quinze da manhã estar com você estar ausente sempre ausente há anos eu pergunto, trombo com pessoas algumas mais outras nada paro e rolocompressor fico estatelada, respiro um pouco e depois sigo caminhando, um pouco mais manca, devagar, descrente. Essa eufórica não sou eu eu não sou só desesperos e risos preciso de sensibilidade e aviões internos.
Meu nome quer dizer assistente de cerimônias religiosas.


Donnerstag, Dezember 10

Canção IX - um afago dedicado à mim mesma,


 rosângela rennó
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Tenho meditado e sofrido
Irmanada com esse corpo
E seu aquático jazigo

Pensando

Que se a mim não me deram
Esplêndida beleza
Deram-me a garganta
Esplandecida: palavra de ouro
A canção imantada
O sumarento gozo de cantar
Iluminada, ungida.

E te assustas do meu canto.
Tendo-me a mim
Preexistida e exata
Apenas tu, Dionísio, é que recusas

Ariana suspensa nas suas águas.

_____

à tumba.

Amém. Atrás de todos os deuses estou aqui e lhe imploro: saia de mim um pouco, não aguento mais essa afetação no meu peito, peço que me abandone, você sabe o que acontece comigo e com você, porisso peço novamente, deixe-me um pouco a sós, eu não suporto mais ver você e a minha fraqueza em dizer-lhe minhas boas novas meu medo em gritar o acontecido em mim esses tantos sentimentos que me povoam pés e cabeça e arrepios dor prazer por favor, esqueça-me um pouco, esquecer-me-ei olhares no espelho e a ti darei meu luto, dedicar-lhe-ei meus póstumos epitáfios plantarei capins emvolta de mim para poder pastar a vaca o boi e a galinha ciscar. Terás proximidades e o azul-claro do céu nunca entrará no meu caixão por ter quilos de terra sobre o meu corpo.

Mittwoch, Dezember 9

sacos e pães


                                                                    diane arbus

Os sacos de pão na cabeça inspiram-me agora algumas poucas fracas palavras talvez elas grudem um pouco sejam difíceis de limpar, está bem, lhes darei fôlego.
Justifiquei meu mal para um assassino - devolveu-me as pedras, ensinou-me a fingir um pouco, há, gargalhei e saí correndo. Cansada fiquei e recostei numa pedra cinza-chumbo fodida de linda fechei os olhos um pouco irritada estava queria moer as goelas daquelas tagarelas voz de sabão escorregadio e chato. Alguma coisa mudou - constatei. Queria ir pra casa, compreendi o que mamãe sempre me falou: fica quieta no canto pra não ter de engolir desaforo. Não tenho medo de desaforos mas é o cansaço mesmo, sabe? E a vontade imensa de escrever e embalar-te nos seios coragem para muitas outras coisas é preciso, coragem em relação ao outro. Agora escuto e uma ponta de inveja, desço e deito mais o corpo na pedra, cabeça nas nuvens, talvez num parto eu esteja mais presente, agora eu gesto mesmo uma outra de mim um pouco mais ausente mais sóbria mais silenciosa mais solidão menos necessidade dos outros. Necessidade do outro mesmo. E medo. Medo de me machucar. Mas porque não machucar-me inteira, descer barrancos, negar-te o nada habitar a frustração? Não preciso saco de pão na cabeça, agora posso gritar com você de rosto limpo, quero bater cuspir demorei tanto para isso tantas besteiras por deus...
Ei, você, inserido em mim um tanto para doer, quer?
doa-se também.


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Freitag, Dezember 4

Beuys - rei.



'Eu quero criar um palácio real. Não para glorificar os velhos reis, mas para dizer que todos os seres humanos são reis. A dignidade de cada pessoa reside no fato de estar viva. Eu não estou satisfeito com a interpretação simples e materialista da vida. Na nossa época materialista, os elementos do mistério e da alma foram destruídos (...) e é por isso que eu embarquei nesse conceito antropológico, para tentar fazer com que as pessoas conscientizem de que elas são uma grande forma de vida e a expressão de suas almas.'
Joseph Beuys - como poderia esquecer-me de ti?

Onlan



Orlan e a loucura que a envolve - tirastes meus rins para um foie gras úmido e suculento,


no corpo o poeta.

O poeta está lá jogado às traças, sombra de sua própria revelia. Espanca-se num gesto auto-indulgente achando espantar monstros internos bate forte na máquina não aguenta - acende outro cigarro - 'estapafúrdias tolas essas tenho de tricotar bem forte palavras trama dura e concisa para lacear poucos durar alguns bons anos.' Fez-se boba a visita que recebia de sua amiga/amante lhe disse em seguida: 'corroer memórias tudo bem meu querido o que eu te desejo na verdade é um dedo afunilado sabe essas tensões que nos jogam lá e cá e derepente mar fundo nem um pouco calma ela se esvai, não preciso não quero confiar nela mestre dos indesejados comidos ela ataca coração e cérebro minha vagina dói muito agora fui estuprada por você todos esses anos entraste na carne pele áspera nem gozar gozou só queria choro e arrependimento mas você se arrependeu de sentir prazer? Você e o prazer e o arrepender é isso poesia? Por favor me tire daqui, não suporto esse amoltoado palavras entrando feito flecha rasgos demonios rasgam gemo um pouco e paro - quem? Ruídos sinfonias poucas talvez ele rompa meu sucesso talvez seja um engano e você saia antes do amanhecer engano de anos inocente revés de vários partos arrumo o quarto da família que morreu - uma, duas, três inúmeras vezes.'
Ela disse: quero ser entendida preciso desse respiro teu - nada sofres menina, volta pra casa, lá é teu lugar. Menina teimosa que era, persistiu no erro - preciso fiar meu destino, parcas às favas o que acontece errado? Percome fantasias junto os avessos pontos dos lencóis o que você deseja? Fodes depois lava os lençóis até mais querida, não me leve a mal... Criar pontes no vácuo espero que esteja lendo essa porra desse tratado vazio sobre fazer a travessia do nada, vês que insisto na travessia? Como é isso de sentir buracos no estômago morrer dos dias cotidiano e desgaste.
Estou indo para o outro lado, não me esperes, olhe um pouco mas depois abaixe a cabeça, não tem de quê rapaz agradeço a ti também, não leve-me mal é necessário, não mais essa palpitação e faca na garganta entalada, preciso expulsar as gentes que existem nessas minhas inúmeras dobras tantos me habitam, por favor, deixe meu barco ir na direção de, rompa esse nó no cais, desobrigada estou dessas tuas exigências, não, não, por favor, isso é compulsivo eu sei obcessivo nós somos porém estou farta dessa escrita elegante e exigente estou no raso ainda vejo alguns peixes bonitos mais lá no fundo preciso ir buscá-los, ter com eles um segredo. Ampara-me, empurra-me, preserve-me da morte d'alma mate meu corpo se quiser, prisão doentia essa quero viver em ti co-existir conhecer-te. Conhecer saber o corpo do poeta amante poesia é sexo prazer pêlos na boca também?



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Donnerstag, Dezember 3

ao objeto amado,

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talvez seja bem verdade e aceito isso de separacao eu e ti - és-se, sou-te, tu me és.


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prefiro virgulas a pontos de fim. Nåo posso querer dar fim a algo que é decisåo da vida.
respeito e aceito - chega maos nos bracos, clarice pediu em seu evangelho nåo solta minha mao. Agora é a hora de saber andar sem muletas, experimentar o nücleo. és um dos mais amados, ressoa ainda voz risadas e olhar amor sincero. Me amas silencio eu te amo escuro fé menos bem menos desespero. Visitando agora os seus quartos na minha memoria, esvaziando-os, reservo um lugar especial para voce, o resto jogarei fora preciso relacionar-me outras pessoas. Despedida nao, aceno, tchau vou para uma grande travessia






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Montag, November 30

velha visita.

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Tá bom, de tão fraquinha fez-se decidiu encher o peito de dor sincera rugir - chega de sinthomas fracos rapaz, ursos velhos usos devora-me inteira sem meiadilações esses assaltos poucos um pouco de escrita jogado aos pombos velhos donos dos abandonados lugares vivos - um amigo disse-me: zeladores esses que cuidam paixões e construções antes povoadas.
Cansada da velha romantização da loucura - porque será que buscam buracos-negros dentro da alma? a vida é para poucos meu bem, não desfaleça hoje não terá epitáfios escritos na lápide, habitará limbos e infernos esquecidos. Esses negros arrombos d'alma, desavisados visitam por graça e não mais voltam - ficam presos no cair de poços e poços e há, nem conseguem jogar uma corda-bamba que seja para que os salvem. Não me fale do que nunca visitou. Se foste humilde criatura teria medo de ter convulsões e morrer toda vez que desses busca à essas que não são das suas pujanças. Sensação de sufoco - mais dois comprimidos antes que eu desfaleça, por favor. Insisto - preciso continuar até que o coração pare os batimentos e alguém dê falta de minha presença. Prossigo uns poucos passos não aguento - loucura é dor que bate à porta, a ninguém desejo, uns murmurinhos ressoam na caixa cabeça estremecem corpo inteiro arrepios e medo músculos contraem jogada ao canto, povos, nações por favor cantem a desgraça assolem nossas novas vidas com um pouco de mesquinhez e covardia. Tomas existência como romance vida tépida um pouco talvez, rezas para ter coragem de pagar uma noite à um vadio puto de esquina - leve-me coragem solte-me estrelas conhecerei o oceano vazio chão de mares?


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Donnerstag, November 26

gramas.

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Escutando o barulho das ruas, caminhantes de rodas travessias - queria um lugar especial para estender seus panos e começar a ceia. As árvores recém-plantadas formavam caminhos pontos de fuga na paisagem. Andou por uma centena e achou pequenina porém bem mais formada que as outras e um quadradinho de grama para sentar-se ao lado de pombas e um riacho de bostas. Abriu o pano delicadamente olhando para os lados - ninguém notou nem sequer notaria sua presença quase-nada um peso leve no corpo. Sentou-se como sentam-se rainhas e grandes majestades nos seus tronos aveludados tendo aos pés súditos e aplausos vários de todas as direções. Sua existência merecia ser aplaudida. Como assim ser dona de um par de mãos sequer nem um barulho digno-me a oferecer? Pensou e logo achou resposta. Abriu os potes sentada na toalha sobre o quadradinho de grama. Sentiu cheiro de verdura passada uma torta azeda da vizinha e um pouco de suco de caju. Fechou os olhos lentamente, esperou um pouco sinal de fraqueza ir embora, esboçou leve um sorriso foi ter um pouco os passarinhos e antes de mais nada, antes que começassem a notar pôs devagar a mesa estendeu os varais alma cheia, habitada por muitas roupagens, lavagens de muitos seres todos limpos, sem manchas ou marcas de usos passados. Digna, viu-se dona de uma maré e pensou mentiras absurdos vários curvou-se ao Seu divino, serviu-se um pouco de verduras cozidas agradeceu a si mesma e gargalhou liberdade. Riu alto, colheu uns matos ao redor e deu-se de presente aquela sensação enchida no peito. Alegria comedida uns sorrisos tímidos e percebia um segredo que todos aqueles andantes transeuntes moleiras sujos nem sequer imaginavam. Era dona de um reino, novamente varal roupas limpas estendidas seus súditos tocavam sua face como tocam O sagrado, venerável. Horas e horas, banquete feito, recolheu-se e recolheu os trapos, novamente árvores pequeninas coração leve cheio ausências um pouco supridas caminhante do mundo levando um reinado nas costas.


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Clarices

e falava que escrevia o simples...




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'Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato. Ou toca ou não toca'

Para Clarice, um pedaço de minha vida


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Dienstag, November 24

pés no barro,

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Sim, quero falar também do podre dos dias. Ser também escarro, demônio aberto caixa desagradáveis surpresas que pulam, perguntas: 'de que morte morrerás agora?' Quais são as mortes do amanhã? Quais mortes me povoam agora? Morri - ressurjo novamente não tão tarde sob pretextos de arrastos solitários carne pesada e crua passos lentos corpos caídos.
Quem são os mortos? Chega - desarraigar esses que me tomam arrebatamentos sem sentido perder tempo com loucuras dos outros [não estou para isso não]. Por favor não faça-se vítima, meus mortos estão acordados, olhos abertos, observam esses movimentos teus almas e corpos sujos, enlamaçados você se esfregou bem querida mas esqueceu-se das unhas e pés fétidos no barro. O cu ficou intacto fez sexo ontem com a sua outra, ela pediu devagar e você fodeu gostoso agora de ressaca consciência pesa. Fodeu a sua outra como quem fode o baixo, a sua merda subordinações e agora quer ter com deus. O Deus. Implora-lhe custos baixos e talvez até uma alforria mas nem dá-se o luxo de imaginar quem lhe prende os pés à lama. Talvez às porcas vadias ofereça seu testamento até a hora um segundo antes de partir - mal partindo, pois, terá a máxima o juramento eterno: 'Quero os bastardos daquela vila! Borrarias não quero mais os meus trapos limpos!' Ouvirá a risada Dele, Ele que negou-lhe onipotência e seus prazeres dor dos outros.  'Borrarias vá em outra freguesia, inferno talvez - desejo-lhe sorte nessa tua morte, poderás convocar-me quando quiseres, para que eu te espie de longe.'
Dores de solidão foram essas que sentia agora - cansaço extremo, pousou um pouco a cabeça ao mar, imagem, fez-se um pouco contente : 'Deus compreende minhas dores, extirpas esses mal cansaços que instalam-se em dobras de corpo, faz-me ser mais.' 
Deitada depois do dia povoado pessoas inúmeras chamadas - eu lhes chamei - monstros, mortos, povoar sementes términos túmulos ver-se enterrada em suas caveiras misturando o de fora com o de dentro quis pôr ordem aos berros. Os de fora foram - paisagens apenas penugens pouco presas ao corpo os de dentro luta eu e meus senhores, minhas entidades, divindades, seres todos esses bens e irrequietos prazeres portando armas assasinos presos na garganta vontade de te matar, querida, jogar-te num poço cheio ácidos leões, matas um leão por dia? Tens a corriqueira rotina desejada de estar uns nos buracos dos outros e sobrevivência? Nada sabes tu da vida, gloriosa e maldita



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Montag, November 23

Quanto à Ti...

Agradeceria aos muitos instantes e cobraria uns poucos mais. Uns nos bolsos do outro, enlaces e verdades não-ditas. Tudos em nuvens nuvens povoadas várias camilas situações-camila. Formalidades não tenho, posso lhe ofertar minhas nuvens muitas coloridas a serem compartilhadas, pisadas pés descalços desmanches incertezas construções castelos habitando o ar.




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Quereria eu escrever coisas poucas, um pouco mais suave a vida encarregando as nossas vias todas, não importar-se tanto a dor de mim mas a dor dos outros. Quereria renegá-la ao abismo dizer - 'não estou mais aqui, encontre-me em outros lugares.' Na verdade lhe disse isso uma vez, a dor instalada na pele superfície porosa e eu inocente que era dei de mãos aos céus, agradecida. Esperta que era, deu de voltas uns tempos e achou outro lar para habitar, agora mais profunda. Profundo também era o lar, repleto de nichos e lugares - instalações férteis enraizadas estar por todo o tempo sem respiros lugar quente sol árido perpétua vastidão essa que me assola.
Discutiria as minhas dores menos, se um dia as tivesse feito minhas de fato. O incômodo não é pouco, por deus, cortar assim laços tão estreitos risadas tantas compreensões por olhares, toques, por-vir um sem número de relações construídas ferro fogo queria que estivesse aqui observando as mãos enlaçadas as minhas súplicas as coisas por serem ditas. Pau na mesa - cansaço, você disse, cansaço - exige fala e corpo. E tantas vezes quis isso, você bem sabe, o  eu queria uma conversa extensa cansativa e risonha - de quem compreende que os infinitos do outro duram bem mais de meia hora e meia dúzia de palavras ao ventilador. A reconciliação é conosco mesmo. A briga é com a gente.
 Esbravejei muito esse tempo agora realmente a distância reinvidicada é o melhor que temos entre a gente. Como dizem - muita lama entre as relações, quanto mais essa. Acertar os pontos com a escrita, é o melhor que tenho agora. Bem sabe você, conhecendo-me melhor que muitos.
Queria lhe dedicar músicas melodiosas a serem cantadas sóis e vento, mas não consigo. Penso em marchas compassadas velórios a te ofertar




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Mittwoch, November 18




( Pim - Consentimento da dor. )



Vontade sincera essa deve ser ver o corpo suporte de dor voluntária, ajudar nos preparativos, antecedentes, montar a maca do agonizo leve, vários traços pouco densos uns mais fortes - sangue que esvai. Primeiro sentou-se de leve, mãos apoiadas no corpo, olhos brilhantes e graves - pois sabia o que viria, e sabendo, fez-se sombra. Realmente, o que me impressionou era a vontade e força contida naqueles olhos - nenhum momento titubeou apelou aos céus inferno caiu num buraço poço de lamúrias agonia. Fez silêncios, marcou seus passos, preparou a cena. Tirou os farrapos, vestiu-se preto necessário e foi ter com as suas vozes, consciências, partos, cirurgias, medo, pulsão, morte e vida. Deitou-se leito de cama - livrai-me senhor dos atoleimados! - esfregou os últimos resquícios de luz e deixou-se marcar vermelho-sangue. Tal qual placa de cobre, abrir rastros de escuridão por sobre a claridade - ofício maldito este. Garganta um pouco seca, carne viva oferecida aos gentios, o corpo imaculado profanado, habitar de demônios - um sorriso de canto, um corte paralelo. Gemidos poucos, fez-se sudário também; o tecido embebido de assepsia cheiro de pecado, perigo. Maria madalena esfreguei seus suores de sangue, contornei suas tristezas poucas com um pouco de veneno pingado na pele - porque o veneno diz querenças, mortes, a pele sufocada. Carne trêmula, navalha na carne, desenho tirado à força, raspado, cortado, detalhado - mãos de assassino essas que me tocam por deus, mãos que pousam e mãos que marcam - carícias supremas, o correr da navalha na minha carne, sua carne que se fez minha, apropriação, projeção de um eu existente pouco na vida, eu ansioso por participar desses novos luxuriosos da vida, toque penetração a lâmina e eu. Esfrego um pouco de sangue nos lábios, bergman disse-me uma vez 'são mentiras, todas mentiras...' Nosso próximo gozo será em meio à cacos, feridas expostas, sadismos, palavras cruas, prazer violência sutil



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Montag, November 16

giacometti - para Ti,






A beleza tem apenas uma origem: a ferida, singular, diferente para cada um, oculta ou visível, que o indivíduo preserva e para onde se retira quando quer deixar o mundo para uma solidão temporária, porém profunda. Há, portanto, uma diferença imensa entre essa arte e o que chamamos miserabilismo. A arte de Giacometti parece querer descobrir essa ferida secreta de todo ser e mesmo de todas as coisas, para que ela os ilumine.







JEAN GENET, O Atelier de Giacometti

Montag, November 9

depois,

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deixar-se invadir tal qual navalha cortes na carne, descontroles. Não há espaços para fugas, perdas do controle, estar ali e derepente estar em outros lugares, sensações, sonhos amultuados é isso mesmo, essa escrita obsessiva e repetitiva, bater sempre nos mesmos pontos, não assumir o que está mais embaixo, está sob seu nariz,linda linha contínue anda traços soltos agora um desconforto na pele, talvez não goste mais de habitar esses fracassos, talvez queira um pouco rir da vida. Não há espaços para elucubrações essas paixões repentinas sintomática - falam dos deuses todos, esquecem da respiração que cria um próprio deus habitando todas essas marcas seu pulmão sujo gás lacrimogênico sujeiras imensas facilidades... facilidades. ambições, praticidades, o pé batendo suave no asfalto, milhares de bolsos. Esquecer-se de viver essa parte amarga narrativas em terceira pessoa para quem?
falo aos poucos amoras selvagens e dispersas talvez estrague um pouco os relacionamentos sufoco o tempo perdido o tempo que se perde nas coisas - demora, situações limites, estar um pouco é conveniente, não mais que isso. exigir o tudo da pessoa - até estragar...?
estar sempre, estar inteira, colher os frutos verdes e deixá-los podres ao toque. juro juro não querer isso, não querer não é não fazer. estar sempre fraca é um saco

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Freitag, November 6

cansaço

Parece que estamos todos muitos sós, é preciso que criemos outros a partir das costelas. As nossas costelas criam constelações e aí nos jogam no hospício e nos enchem de remédios. 'Pára, minha senhora! Arranjemos macacos e pensamentos para você, espera um pouquinho só'. Eles fizeram-me criar o mundo a partir do nada, então desmoronei meu corpo e vi minhas costelas pulsando, sangue dor os meus dedos tocando os outros dentro de mim. Criei companias imensas 'Não é bom que o homem esteja só' ordenaram lá de cima. O Outro quis costelas muitas reproduzidas.
Companheiros nascem da costela e do ânus, o buraco negro. O cu as constelações eles não querem crer que existam ali. 'Pensamentos, querida'. Tá, eu entendi.
Fiz bagunça com o cu e a existência das costelas. A criação, Deus e o cu. Novamente, herege remediada por todos os pensadores e cientistas. Quando explicando da teoria, fizeram-me calar a boca, 

'que pobreza por Deus...'

Donnerstag, November 5

Apagos

Pôr um texto abaixo reescrevê-lo depois, preocupar-se com os tons nuances gramática estar esquecida do ofício tentar um abajur na floresta. Estive por esses dias lá na serra, colhi bons frutos durante minha estadia nesses lugares, lugares todos esses habitados nos meus todos anos - frutos colhi, repito. As catarses acontecem raramente, mas marcam. Estive num blockbuster acesso de raiva e aí pus tudo água abaixo - aconteceu, é verdade. Na escrita a gente tenta tocar um algo que a fala truncada, rimos, rastros de primavera não deixam. É fácil ver as pessoas não desencadearem nada, um máximo é gritar roco e risos depois - sinto-me útil em comunicar-lhes isso. Não basta pensar bonitezas, vivências muitas, mastigar e pensar 'não vivi isso, mas por deus!'
O trabalho é mastigar e engolir o vômito, não deixá-lo transbordar. Quem transborda o vômito carece. Engolir seco, vertigem, sentir abrir buracos no chão e quedas, fechar os olhos redemoinhos distâncias perder referências suor frio, enxaqueca ouvir a dor dos outros como quem vive a própria - sentir o estupro do outro. Boca seca medo de sair de enlouquecer de enfartar (loucura: queda abrupta buraco negro sem fim. Estar caindo todos os dias e não ter chão para pisar );
Para entender poesia se faz necessária a entrada na narrativa estômago socos e uma pele carcumida. Ler suspirar armar rasgos elogiosos tudo bem. Eu queria vocês todos neste lado, caindo também.

Donnerstag, Oktober 29

Atos

Ato 1 - como perceberam os ínfimos, gosto mesmo é dos amanheceres, dos sóis acordando passo largo longe na madrugada que se encerra. Corpo - campo vasto de sensações adormecidas noite adentro, agora um pouco mais puro no toque. Poros instáveis, sujeira e ar circulando, sonhos medo a carne exposta ao mundo sem proteção alguma. Sonhos muitos fluxo enxurrada passado-presente. Avós, tias, casa, deserto. Deserto a roupa largada e depois, bem lá encima, uma corda marcando o passo dos giros da terra. Acordou zonza e tocou levemente suas pálpebras. Mãos no pescoço olhos fechados agradeceu por estar viva.

Vestiu meias, sapatos, vestidos, calções, soutien.
À rua foi arremessada.

Sonntag, Oktober 25

Dostoiévski. Dedico minha primavera também à ti.




Dostoiévski - Anotações para 'Irmãos Karamazov'


"Com a força que sinto em mim, creio-me capaz de suportar todos os sofrimentos, contanto que me possa dizer a cada instante: "Eu existo". Entre tormentos, crispado pela tortura, mas existo! Exposto ao pelourinho, eu existo apesar de tudo, vejo o sol e, se não o vejo, sei que está lá. E saber isso já é toda a vida."



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Mais do mesmo.


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joios.

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Talvez num ponto escasso ela converta suas ideias em ações, tantas impotências, por deus... Escrever dedos soltos nas teclas era tão fácil, preferiria bater murros e arrancar palavras aos berros. Estar presente naquilo que chamamos 'dor da saída', inteira em seus porquês. Ela compreendeu perfeitamente a queda do poeta na janela, aquele mergulho corpo e pedras no rio. Sentou-se junto à escadaria, a cabeça caindo poços escuridões abaixo, 'queda livre, é isso enlouquecer? é a sensação de estar sempre sem um algo chão pisadas? loucos não pisam'. sentiu-se tragada por buracos abertos solo pegajoso, arrastar o corpo na lama dura e escura dessas razões tão fracas apresentadas. 'Bem sei eu que as palavras não brotam de um algo bater macio toque de seda. Bem sei eu amultuados caridades mendigações mediocridades fracassos  e umas sortes poucas para meia duzia de frases jogadas ao relento'. A boniteza fica ao olhos de quem lê. Todos os outros restos que constituem tais torpes palavreados, alimentar-se do joio oferecendo o trigo aos outros. Era esse o ofício do assassino? Oferecer a morte aos que temem? E se temem, por que?
Os outros continuam a travessia, pés colados nas estradas, sem muito espaço, contidas. Os nós travessias largas, pés no abismo ouro sujo carne venerada, desejada.
Comeu ela própria seus joios, certa de que algo bom aconteceria.


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Dienstag, Oktober 20

Tombo III

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A caminhada é experiência.  Raquel percebeu que inércia era o oposto de criação. Trancafiada no seu apartamento, olhar parado no horizonte branco estendido comprimentos a fio. Todos os horizontes encontram-se um dia, Deus lá sabe disso. Um rompante - queda brusca céu e inferno, e derepente estava ela sentada em antigas paisagens, cimentos de caminhos. Os passos, rastros todos imersos em possibilidades muitas, oeste, centro-oeste, coração, rim, tímpano, cegueira, cinismo, norte de sóis. Todoas estavam em si. O si mesma si própria, caída em farrafos na rua. Envergonhada ficou um pouco, enrubesceu, outros olhares nos dela; levantou-se desajeitada e pôs-se a traçar novamente seu trajeto.  O trajeto é também missão.  Missão doentia essa de percorrer o lodo, habitar todos esses traços encontrados, perder-se em caminhos opostos também pertencentes seus. O peso de cada passo, esmagando, moendo um pouco. Olhava amor, olhava rejeição, aquelas bestas estampadas nas folhas, repulsa, ódio, violência, escorrendo, desfacelando nas suas costas, cera quente corpo crostas dos maiores assimilos da história. Ela também matou Jesus na cruz, cuspiu na sua cara, sentiu fogo prazer o sangue do corpo fruto-bendito, amável, idolatrado, escarrado, pisado, sujo, morto. Prazer de impulso, sem saber porquês, penetras, lambes, uivos, vômitos, trepas com o próprio deus.
O caminho contínuo nas esquinas - um respiro.


Parou e de cara escadarias e cruz - igreja.
Passos a cima, à  porta foi levada,




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Freitag, Oktober 16

Cuando la fe mueve montañas





http://www.redesdecriacao.org.br/?p=197

Trabalho lindo do Francis Alys
Assistam o vídeo!

Donnerstag, Oktober 15

Tombo II

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Comprar flores tais quais túmulos floridos nascenças bem aventuranças, um quê daquela vizinha Virgínia que sempre ia aos bosques e povoava-se inteira silvestres, pequeninas. Raquel bem sabia dessas marcas minúsculas, um adendo no corpo da outra. Também sabia que nada de pequeno a fazia, comprou então copos, o leite derramado, girassóis e toda sorte de diâmetros extravagantes, encheu-se o tamanho do vazio de dentro, colorido. Iluminou uma vela, queimando-a inteira orações. O caminho da floricultura indas e vindas diárias das gentes, habitantes de um mundo alheio ao dela. Os olhos distantes, 'transeuntes porém...' pensava. Via-os passar, flores miúdas, e uma vontade enorme de pescá-los, experimentar uma pétala de cada ser. Sabia-os merecedores de toque carne e sexo. Pedintes, crianças, criminosos, velhos babões, putas velhas, o carcomido dos corpos, as ratazanas a passear, as bundas gordas, caídas ou faltantes pelancas, urubus, asas, rabos, insetos, falta de nojo. Queria dedicar-lhes toques e mais toques, habitá-los de desejo. Lia esses rostos e dava-lhes amor tímido, de longe.
Num segundo paralisada por essas enxurradas fluxos de consciência e agora agente de seus próprios pés, caminhantes também, errantes também.

Continuou a caminhada.

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Dienstag, Oktober 13

Tombo I

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Antes de nos demorarmos aqui, um agradecimento: Pai, Filho e todas as Almas.

Novamente falamos do hálito, agora amanhecido.
Ela levantou-se hálito morto na manhã e pôs-se a gracejar ternuras e sussuros as mãos nos seus cabelos. Ele murmurou gracejos manhas e virou-se para o outro lado, adormecido. Raquel saiu da cama e cumpriu com os hábitos matinais diários, sempre um olho espichado para o da cama. Fez duas torradas com geléias leite mel e serviu-as, quentes e mãos nas suas, chegou devagar e tocou o corpo nuca acordando-o, trazendo-o para respirar com ela. Eles comeram delícias leite e mel na cama, sentados, sempre com os olhos atentos. Ela lembrou de seus compromissos e ele correu atrasado enfiando jaquetas camisas e papéis nos bolsos e nas suas ranhuras.
Ele quis tomá-la de um assunto essa manhã. Ela percebeu e desviou.
Resolveu sair e comprar flores a sós.


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Mittwoch, Oktober 7

Pai

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Senti embaixo do meu nariz o hálito fosco de meu pai, vinho e alho. Quente o meu coração, transferência à infância no mesmo instante. As mãos grandes e fartas do pai, carregadas de segurança e carinho. A gente trabalhando junto na comida, no restaurante. Tempero de gente que ama. Lembro de perguntar coisas a ele, e ele enrubescendo mal responde, sente-se surpreso pela minha curiosidade. Tento sempre reforçar o afeto e romper a barreira que existe entre nós, autoridades construídas, agora um pouco esfaceladas. Destruindo esses muros, esses parcos buracos, crio outros tipos de passagem, pontes talvez.
Comprei um vinho, não sei se bom, para compartilhar com papai. Espero nos embriagarmos de nós no domingo que se aproxima.


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Tarkovski







Ao Ser Andrei Tarkovski, dedico minha primavera.

”diante da casa , estendia-se um campo, lembro que crescia trigo-sarraceno entre ela e a estrada que levava ao próximo vilarejo. O trigo sarraceno é muito bonito quando está em floração. A flores brancas, que dão efeito de um campo coberto de neve, ficaram em minhas lembranças como um dos detalhes essenciais e inesquecíveis da minha infância. Porém,  quando chegamos para decidir onde filmaríamos, não havia trigo-sarraceno a vista...apesar disso, arrendamos o campo e semeamos o trigo... As pessoas do kolkhoz não conseguiram esconder o espanto quando viram o trigo brotar: quanto a nós ,vimos essa conquista como um bom presságio.Ela parecia nos dizer algo sobre a qualidade especial de nossa memória-sobre sua capacidade de penetrar para além dos véus estendidos pelo tempo, e era exatamente sobre isso o filme: essa era sua idéia seminal.”

Falamos mais sobre ele. 






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Dienstag, Oktober 6

Para um alguém (in big river black)

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Há tempos pretendo essa conversa. O que está sendo difícil é dedicação tempo e ouvidos abertos. Não quero ser rebuscada nem prolixa. Não estou exigindo caras e amores e situações que extrapolam as nossas, como bons amigos que somos - ou éramos. Fato, sinto muito a falta de espaço para tratarmos de assuntos urgentes e importantes - para mim. A conversa sempre vai para outro viés e a impressão que tenho é a de que não interessa saber dessas coisas das de dentro de mim - daqui a pouco não temos mesmo um algo que nos ligue fim de semana. Sempre muito complicado para mim articular e falar desses movimentos interiores para você, que existem e existiram, as múltiplas transferências, projeções, o meu ego fraco que depositou em você um tudo de melhor, vários pedaços meus a serem reavidos, se você os largar, é claro. A nossa conversa sempre tende a uma não dedicação de sua parte, e isso eu não entendo o porquê - já lhe disse diversas vezes que seria cansativo, mas necessário à mim. Todas as suas pirações em relação à tudo que é meu, toda a sua projeção lado ruim em mim, você faz parte da sujeira também, querido, não tem como safar-se. Estamos juntos nessa, nós dois mergulhamos, nadamos pulsões de vida mas mais de morte, esquisóides que fomos desde o início. Tento reaver minha pulsão de vida, esta que está aí com você, e preciso da sua fala para reavê-la. Preciso que você tenha ao menos um pingo de afeto ainda e consiga falar e trocar comigo. Sei, posso estar pegando pesado demais isso aqui tão público exposto e tantas discordâncias mas foi o jeito que achei de furar o seu silêncio premeditado. Quando a relação é mais que você estar com o outro, mas o outro estar com você também, quando pesa para o seu lado, você espirra. Prestou atenção? Eu detesto estar escrevendo isso tudo aqui aflições e angústias e lágrimas muitas (porque desde sábado pesa sobre minh'alma uma angústia e pesar de sentir a sua resistência no lidar com as dificuldades, pensei que estaria diferente. Pensei que a teoria tinha ajudado na prática. O que não me faz nem considerar espirrar, desistir, é senso de responsabilidade. Você lembra, querido, 'tu és eternamente responsável por aquilo que cativas?' 'tu és eternamente responsável pela tua rosa?' A gente pode às vezes fugir do nosso planeta, mas a rosa estará lá esperando nosso cuidado. Nós já fomos cativados, não há mais tempo para fuga).
A conquista da outra alma se dá quando conquistamos a nossa. Você já tem essa alma conquistada? São tantas coisas a lhe falar, mas não há permissão.
Todos merecemos a morte, porque todos merecemos a vida. As duas estão intrinsicamente ligadas. Uma depende da outra para existir - respirar.
Eu queria lhe mostrar essa guinada maravilhosa que ocorreu na minha vida, e que me faz agradecer cada respiro que eu dou e cada pessoa que passa pela minha vida. Você me disse: 'Eu já senti isso, essa experiência do sagrado.' Que bom querido. Porém o que é melhor é viver isso todos os dias, estar respirando o mundo inteiro, estar habitado por tudo que nos faz ser, cada minuto, sem tempo para fofocas, maldizer, o ruim das pessoas... Tem tanta coisa bonita nesses rostos 'feios' que a gente encontra! Em todas essas carências, rudezas, ruindades, arrogâncias ditas e não ditas, orgulhos, tem tanta coisa bonita! Isso me interessa agora, não estou interessada só no que a dor fez, mas como ela foi parar lá. Ir mais embaixo.

Dizer de novo: tantas coisas a lhe falar... Sem espaço.
Um dia a gente conversa.


Um abraço bem forte daqui, dessa que sempre lhe teve como um objeto amado, precioso,
uma pérola.


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Samstag, Oktober 3

Tês.

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Sim sim, não era bem aquela sensação que lhes queria falar, até porque de sensações já bastam os homens máscara escura cinza paixonites e arrependimentos. Queria lhe falar dessas que a gente sente ao ler aqueles livros Guimarães e Clarices, aquelas dores povoando almas e pêlos. O que esta va pensando - e isso realmente corroía a minh'alma - é nos processos todos arrebatamentos prisões cortes interrompimentos transa dor morte do espírito ressurgimento de medos merdas todas digeridas por esses estômagos que aqui falam. Uma tarde a gente golpeia o espírito, de noite já queremos de volta o ente roubado. Pensei no meu eterno 'Tê', esse que me acompanha feito bíblia e pelo qual dedico toda a minha escassa produção de conhecimento, pensamento pouco umas dores nas entranhas (palavra inevitável essa, a contragosto). Gosto por estética, tudo nem tao bem colocado, mas bem pensado; escrita fluida, corrente imensa de desgostos e experiências jogadas sol de inverno e tantas estacoes por vir. Este mesmo Sol serve assassino e assassinado e grao e pao e cabeca e bosta e;
ontem foi a minha vez de estar privilegiada, inocente nas minhas visões, afundada na pele um pouco. Um Sol daqueles raios e meu olho cego milésimos de segundos e imensidão branco nuvem de algodão a superfície minha toda com prazer e felicidade irredutíveis. Ri um pouco. "Que besteira é essa, por Deus? Do que estas a rir?" De nada, besteira. Mistérios - respondi. Experiências pessoas podem ser compartilhadas, mas a partir daqui existe um algo que nao lhes deixa entrar mais. E eu nao quero que entrem. Todas essas coisas pertencem exclusivamente à mim;
Sem estética.



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Freitag, September 25

Hoje.

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Não pensava mais em nada a não ser naquela sensação de abandono. Todas as pessoas ao redor queriam largar casa família dinheiro tranquilidade e eu só querendo experimentar um pouquinho disso-tudo. Almocei solidões naquela tarde. Subi a ladeira arrastando as gentes ancestrais e meu próprio passo. Os olhos sempre flutuando a paisagem e fixados longe, arvoredos e raiva, nuvens cinzas de passagem. As mãos pela primeira vez voltaram-se dentro, não útero intestino pulmões, mas sufocamento cérebro e coração pulsando morno compassando ritmos aceleração e descanso. O pé de amora no meio do caminho foi pouco para a vontade. Quis andar por entre milhares de pés todas as espécies vermelhas alaranjadas e azuis esverdeadas, textura firme-manga, pele seda-ameixa, tempo damasco-sóis.
No pé da amoreira, milhares de amoras mortas, esmagadas, podres. Árvore bem formada não evita desastres. As amoras, quando maduras, servem indústria andante asfalto terra verme cão e passarinho. Ficam a mercê das coisas que passam por elas. Eu consegui alcançar duas ou três no tempo certo. Estavam verdes o restante dos frutos pendurados. Quando consegui parar emoções - um segundo só - cheguei à porta. Abriu-se e pude pôr à prova milhares e quilômetros de tecidos encobrindo meus. Duro cortar essas cascas formadas meses anos nesse pinga-gotas homeopatias de dor empedrada experiências morte mercês nada resolvidas. Raízes sem solo por penetrar, às vezes um bumbo a bater nos lencóis e quadris mas nada muito certo. Ultrapassei a porta e tentei deixar armações fuga fortaleza ciência para fora. Liturgia das horas - hora reservada ao meu reverberar para fora angústias talvez dilaceramento d'alma todas essas nossas vivências por viver, vivências por esperar o olhar.
Transbordei um pouco além daquele meu prato de sempre, e a guardiã daquela porta me colocou num recipiente maior, acrescentando uma pitada a mais de fermento.
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Donnerstag, September 17

Mais sujeira.

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Eu queria roubá-las de alguma forma daquele rosto desfigurado. Eles não permitiram 'não é isso' bradavam. Medo de abandonar a 'vida'. Falei: 'como é que posso continuar com esses colares se nem aquelas marcas podem fincar em mim?' A outra, que estava ao meu lado, balbuciou 'pegue devagar, aos poucos, eles nem irão notar'.
Fui eu, pés flutuantes, e tentei roubar pouco a pouco o que era dele - por direito.
'Faz tempo,' falou 'que sinto esses teus preparativos. Espera, garotinha ansiosa, isso aqui comigo também é seu por direito'.

Espero na beira daquele morro cinza até minhas pernas criarem fungos.

Hoje ele tenta colocar-me no sol.
'A beleza tem seu tempo, querida'.



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Montag, September 14

meios a meio

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Acordou e lavou o rosto. Restaram algumas remelas nos cantos dos olhos. Escovou os dentes e logo fumou um cigarro. Acordou com o pé esquerdo, como sempre - era canhota. Ela voltou-se e procurou o algo que estava incomodando desde aquele primeiro piscar de olhos do dia. Talvez a impossibilidade de uma reflexão séria a atrapalhasse. Ficou irritada com essa falta de diálogo com ela. Não conseguia decifrar os códigos internos. Pensou nos externos, então. Precisava revirar, remexer algo. Pensou nas coisas que tinha feito no dia anterior, nas semanas anteriores, nos meses anteriores, nos anos anteriores... Nos desenhos mais ou menos feitos, nas leituras mais ou menos feitas, nas sensações mais ou menos vividas, nos desejos mais ou menos decifrados, nas perguntas mais ou menos formuladas, nas entregas mais ou menos, no olhar mais ou menos, no medo mais ou menos. Sentiu o corpo meio vazio e a carne meio marcada. Aquilo a deixava muito nervosa. Acendeu outro cigarro. Pensou na dor que vivia, a mesma dor de tantas outras pessoas ao redor, pulsando coragem e socorro. As suas 'conquistas' pouco significativas. A vontade de ser grande num cérebro tão pequeno. As veias saltadas de sangue e ódio. Percebeu que na verdade a sua existência exigia nada. Nome, rg, cpf, título de eleitor, carteira de motorista, passaporte de um fantasma. Vida de fantasma. Impossibilitada por ela mesma de falar de si, de significar-se, dar corpo. A sua existência nem era tão prazerosa assim. Talvez para as fofocas do dia, dos pesares dos outros, de ser cabide. Não percebia os instantes sérios e os instantes de se fazer séria. Era sempre aquele pedaço de carne com dois tocos enfiados chamados pernas e um sistema nervoso central que lhe permitia ver, ouvir, falar e sentir algumas coisas. Colocaram uma gralha dentro dela, mais ou menos sádica, mais ou menos masoquista, mais ou menos depressiva, revestida de um sorriso e gargalhadas que ela não conseguia controlar. Ria e queria parar de rir, a gralha não. Então ela fica soltando seu riso desesperado por aí, tentando compreender os porquês dessas suas pobrezas e mediocridades.


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Samstag, September 12

pedestal

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E quem disse que precisamos ser completos, querido?

Nas minhas aridezas e nas suas mediocridades, nao há o que complete um no outro.

Eu preciso da sua fala para reaver a minha.
Eu preciso que você me devolva o que é meu aí, em você.


Estou fazendo protesto pelos meus pedacos.




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sobre a dor.

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Nas suas violáceas recostavam-se há tempos. Ela sempre separava um tantinho para as ir derramando ao longo do dia, mas sempre a roubavam, entao nao havia mais nem para o resto daquele dia nem nos próximos. Tentou pensar num jeito de espalhá-las aos poucos, sem tanto dano, devagar. Quando se deram conta da mazela, marcaram o seu braco com um aperto forte de mao e mandaram-na voltar para o lugar.
As pessoas ao redor ficaram sem as violáceas, e ela sem a oportunidade de dá-las aos outros, juntando um sem fim violetas endurecidas pelo resto daqueles dias,




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Montag, September 7

Em valsas.

Havia mel escorrendo da sua boca quando quis gritar. Pensou nas suas imagens e numa maneira de dissolver as suas águas. O que acontecia, essa estranha tristeza que sentia, a prendia num uniforme listrado cinza/chumbo. Ela quis fazer firula, chamar a atenção dos transeuntes, mesmo sabendo o rosto que lhe importava. Acendeu o cigarro e cantou devagar suas alegrias baixinhas, picadinhas de mosquitinhos no verão.
Já haviam se passado três horas de sua partida. Ela não entendia como conseguir viver naquilo 'inhos', pequeninas sensações estrondosas por dentro o peito, caixa que batia descompassada. Um coisa estranha aconteceu naqueles dias, e depois da despedida tudo ressoava, céu vento rosa-preto vibração no corpo e uma imensa vontade de pôr aquelas águas presas para fora. Não sabia de fato o que era isso de ser peixe nuvem algodão , fogo brasa mar coisas opostas dentro de um mesmo ser. Descobriu dar as mãos num segundo e sentir-se envolvida, milésimos depois ser arrastada para o árido que habitava grandes tempos.
Pegou delicadamente a dançarina e preencheu seus vazios valsando seus imaginários, templos instáveis de dor e prazer etéreo. Não conhecia seus rostos, guiava desconhecidos para dentro de si, estabelecia relações logo desatava os nós frouxos que os envolviam e caminhava a outros, passo vacilante e intoxicava um pouco o ambiente com risadas e brincadeiras. O passo rápido, fugindo de um algo que lhe tirava a dor dos calos dos pés.
Descobriu um nele que lhe jogou em desaforos e sinceridades. Ela aprendeu muito bem a lidar com esse de noites afio sem aquelas vozes.
E continuou sua valsa rumo a um lugar, uma terra do sem-nome, bem perto de seus calcanhares.

Samstag, September 5

In Black Big River

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Estou por essas terras violetas.
A cidade cheira sobremesas, delícias.
Os pais da Ilma sempre tem uma boa história para contar depois do silêncio.
O meu amigo se descola na cidade como um ser pertencente àquilo.
A minha companheira de cama diverte-se ao som das labambas.
E, certamente, olha para aquilo-isso aqui com olhar de surpresa e gratidão.
Estou gostando muito daqui.



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Donnerstag, September 3

indentificação projetiva

Então, um dia, Camila descobriu que precisava reaver os pedaços que tinha deixado nas pessoas ao redor. Camila foi saudando-as, uma a uma, com carinho no olhar e ferida na pele.
Aos poucos Camila espera recuperar-se dessa história de junção de fragmentos. Também sabe que haverão pedaços que não se reaverão nunca.
Mas Camila certamente aprenderá a viver com essas faltas.

Are baguandi!

Montag, August 31

Senhôr T.

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Então um dia, voltou ao vilarejo que lhe pertenceu outrora. Reviveu a história com o barro nas mãos e as lembranças marcadas no corpo. Viu - olhou de frente seu eu-pequeno, seu eu-alegria frágil. Deve ter fechado bem os olhos, suspirado um pouco e ter derramado umas poucas águas. Sentou-se nuns tocos de madeira ali de perto e pediu para que todos se afastassem um pouco, precisava reviver aquele menino machucado novamente. Longe de todos, encostou seu ouvido nas folhagens podres do chão e foi tombando o corpo devagar. Ficou imóvel uns instantes, sentia-se novamente enlaçado pelo calor firme e amoroso de sua mãe. Começou a sussurrar bem baixinho todas as suas recordações e tristezas à terra e ao vento. Dedicou ao vento as angústias e à terra todo o resto. Queria ser plantado ali, plantado bem-formado, sem nada que reste, atrapalhe. Reencontrou novamente a mãe dissolvida no vento, na água do poço e naquela terra fértil e vivida. Ouviu sua voz a lhe chamar todo fim-de-tarde. "T, lembre-se sempre, a água deve ser agitada e bem servida, ouviu? A água é alimento, deve ser buscada nas tuas necessidades lá no fundo, aquelas que nos bastam. A água não é torneira, não é depósito, não é coisa a ser comprada; exige procura, sedimento, plantação ao redor." Depois mais tarde ela lhe disse que saísse dali pois tinha feito do jardim um deserto árido
T nunca tinha entendido esse seu desespero com o mal-plantado verde, mesmo sabendo que aqueles ambientes cinzas não o pertenciam. Demorou um tempo, e T. resolveu semear novamente o que existia ali, e foi re-construindo a sua casa de antes, bem devagar,



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Sonntag, August 30

um outro.

Ao braço dele estava de pronto. Sempre nas suas falências, nos meus erros, nas nossas divagações, estávamos lá de braços unidos. Às vezes escorregávamos abismos, aflições e risos. Por ora sempre interlaçados por uma espécie de cordão umbilical-pensamento. Quando fomos afastados, percebendo-nos sós, o meu braço agitou-se muito triste, reclamando a presença do ser único. Ele fez drama e levou meu corpo todo a agitações e ações detestáveis da vida. Ele se fez frio e gelo alguns dias. Eu Camila corpo-sem-braço pedi para que ele voltasse a cuidar das minhas outras partes. Ele ficou intacto como algo sem vida. Eu pedi para que ele me lavasse inteira e me fizesse limpa. Ele empurrou meu corpo contra a terra, me fez abrir a boca devagar, empurrou uns vermes-terra pela goela e desenhou uma linha suave partindo do queixo até o umbigo. Percorreu o corpo todo vermelho-terra. Depois pediu minha licença e retirou-se um pouco. Olhei bem para o meu corpo demarcado todo linhas grossas e malfeitas. Quentura na cor e no toque. Umas partes respiraram bem fundo, outras contraíram devagar, quase tímidas. Ali, despojada dos meus braços, fui experimentar o tronco que restava. Rolava para todos os lados, mas não havia nada que me segurasse, me fixasse num ponto. Fiquei o tempo necessário para despertar. Meus braços pediram licença devagar e foram movimentando quase como um pêndulo. Agitados, vivos aos poucos. Ainda reclamavam da quentura dos braços, aqueles outros do começo. Disse então que não se preocupassem, iríamos procurar aquilo por outras bandas. Lembrei-os que o Sol imana calor infinito e diário todas as manhãs, principalmente as mais geladas.
Desde então, temos dissipado os gelos diários com o calor dos nossos toques diários.

Mittwoch, August 26

Sobre açougueiros.

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Aqueles bolsos de antes não cabiam mais aqui, sinto que de certa forma enfiei sacos vários de todos os tamanhos num buraco menor que uma cárie de dente. Olho as pessoas ao redor e simpatizo-me por suas histórias – por mais obscuras e irreais que possam ser para mim. O açougueiro, outro dia, olhou com os olhos graves para mim, e foi desfiando a carne devagar. É pulsão de morte isso de ficar dias e anos desfiando carnes, pesando-as, preparando-as para banquetes diários? O açougueiro seria assassino se a sua lâmina não cortasse as carnes dos animais? Às vezes imagino-me como uma grande vaca a ser demarcada e cortada. Esse dia quase pedi para que ele, cuidadosamente, usasse de sua faca para me fazer alimento. Farta estou dessas insanidades do pensamento, isso de me pensar fragmentos, áreas, limitações – isso de querer ser menor, uma agulhinha talvez, pontiaguda, a traçar as áreas menores desses sem-nome, dessas frações, frações e segundos frações e misérias. Deu me perceber bem menor que a bunda de um camelo pelo deserto, de habitar seu cu. Isso de construção a partir do engodo, a partir dessas minhas lascas marcadas a formão pelos meus dedos. Preciso contar ao mundo que existo, que posso riscar também, apesar de não estar afiada. Necessito do corte preciso de alguém por essas bandas, me chacoalhando, dando um tapa bem forte na minha cara.



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