Dienstag, Dezember 29
Donnerstag, Dezember 24
caminhadas,
Para poucos, ora pois, desejo peregrinações e desalojamentos muitos, incômodos e nascimentos com as vacas - que o medo não nos assalte e nos impeça a fazer,
Montag, Dezember 21
- Desculpem-me todos — sussurrou o artista da fome, e apenas o inspetor, que aproximou o ouvido da grade, o entendia.
- Certo — disse o inspetor, e pôs um dedo na testa, para dar a entender ao pessoal o estado do artista da fome, — nós o desculpamnos.
- Na verdade, eu queria que vocês admirassem o meu jejum — disse o artista da fome.
- E nós o admiramos — disse o inspetor, condescendente.
- Mas vocês não devem admirá-lo — disse o artista da fome.
- Ora, então nós não o admiramos — disse o inspetor — e por que não devemos admirá-lo?
- Porque eu tenho que jejuar; não posso de outro jeito — disse o artista da fome.
- Ora vejam só — disse o inspetor — e por que você não pode de outro jeito?
- Porque eu — disse o artista da fome, levantando um pouco a cabecinha, e falou fazendo um bico com os lábios, como para dar um beijo, diretamente no ouvido do inspetor, para que nada se perdesse, — porque não pude encontrar a comida que eu gosto. Se eu a tivesse encontrado, pode crer, não teria feito nenhum estardalhaço e teria comido até me fartar, como você e todos os outros.
Essas foram as últimas palavras, mas ainda nos seus olhos quebrantados estava a convicção firma, porém não mais orgulhosa, de que continuava a jejuar.
Essa coisa encarar-se,
Samstag, Dezember 19
oui oui.
Sonntag, Dezember 13
zeladora.
Donnerstag, Dezember 10
Canção IX - um afago dedicado à mim mesma,
Tenho meditado e sofrido
Irmanada com esse corpo
E seu aquático jazigo
Pensando
Que se a mim não me deram
Esplêndida beleza
Deram-me a garganta
Esplandecida: palavra de ouro
A canção imantada
O sumarento gozo de cantar
Iluminada, ungida.
E te assustas do meu canto.
Tendo-me a mim
Preexistida e exata
Apenas tu, Dionísio, é que recusas
Ariana suspensa nas suas águas.
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à tumba.
Mittwoch, Dezember 9
sacos e pães
Freitag, Dezember 4
Beuys - rei.
no corpo o poeta.
Donnerstag, Dezember 3
ao objeto amado,
Montag, November 30
velha visita.
Donnerstag, November 26
gramas.
Clarices
Dienstag, November 24
pés no barro,
Montag, November 23
Quanto à Ti...
,
Mittwoch, November 18
,
Montag, November 16
giacometti - para Ti,
Montag, November 9
depois,
Freitag, November 6
cansaço
Donnerstag, November 5
Apagos
Donnerstag, Oktober 29
Atos
Sonntag, Oktober 25
Dostoiévski. Dedico minha primavera também à ti.
joios.
Dienstag, Oktober 20
Tombo III
Freitag, Oktober 16
Donnerstag, Oktober 15
Tombo II
Dienstag, Oktober 13
Tombo I
Mittwoch, Oktober 7
Pai
Tarkovski
Dienstag, Oktober 6
Para um alguém (in big river black)
Há tempos pretendo essa conversa. O que está sendo difícil é dedicação tempo e ouvidos abertos. Não quero ser rebuscada nem prolixa. Não estou exigindo caras e amores e situações que extrapolam as nossas, como bons amigos que somos - ou éramos. Fato, sinto muito a falta de espaço para tratarmos de assuntos urgentes e importantes - para mim. A conversa sempre vai para outro viés e a impressão que tenho é a de que não interessa saber dessas coisas das de dentro de mim - daqui a pouco não temos mesmo um algo que nos ligue fim de semana. Sempre muito complicado para mim articular e falar desses movimentos interiores para você, que existem e existiram, as múltiplas transferências, projeções, o meu ego fraco que depositou em você um tudo de melhor, vários pedaços meus a serem reavidos, se você os largar, é claro. A nossa conversa sempre tende a uma não dedicação de sua parte, e isso eu não entendo o porquê - já lhe disse diversas vezes que seria cansativo, mas necessário à mim. Todas as suas pirações em relação à tudo que é meu, toda a sua projeção lado ruim em mim, você faz parte da sujeira também, querido, não tem como safar-se. Estamos juntos nessa, nós dois mergulhamos, nadamos pulsões de vida mas mais de morte, esquisóides que fomos desde o início. Tento reaver minha pulsão de vida, esta que está aí com você, e preciso da sua fala para reavê-la. Preciso que você tenha ao menos um pingo de afeto ainda e consiga falar e trocar comigo. Sei, posso estar pegando pesado demais isso aqui tão público exposto e tantas discordâncias mas foi o jeito que achei de furar o seu silêncio premeditado. Quando a relação é mais que você estar com o outro, mas o outro estar com você também, quando pesa para o seu lado, você espirra. Prestou atenção? Eu detesto estar escrevendo isso tudo aqui aflições e angústias e lágrimas muitas (porque desde sábado pesa sobre minh'alma uma angústia e pesar de sentir a sua resistência no lidar com as dificuldades, pensei que estaria diferente. Pensei que a teoria tinha ajudado na prática. O que não me faz nem considerar espirrar, desistir, é senso de responsabilidade. Você lembra, querido, 'tu és eternamente responsável por aquilo que cativas?' 'tu és eternamente responsável pela tua rosa?' A gente pode às vezes fugir do nosso planeta, mas a rosa estará lá esperando nosso cuidado. Nós já fomos cativados, não há mais tempo para fuga).
A conquista da outra alma se dá quando conquistamos a nossa. Você já tem essa alma conquistada? São tantas coisas a lhe falar, mas não há permissão.
Todos merecemos a morte, porque todos merecemos a vida. As duas estão intrinsicamente ligadas. Uma depende da outra para existir - respirar.
Eu queria lhe mostrar essa guinada maravilhosa que ocorreu na minha vida, e que me faz agradecer cada respiro que eu dou e cada pessoa que passa pela minha vida. Você me disse: 'Eu já senti isso, essa experiência do sagrado.' Que bom querido. Porém o que é melhor é viver isso todos os dias, estar respirando o mundo inteiro, estar habitado por tudo que nos faz ser, cada minuto, sem tempo para fofocas, maldizer, o ruim das pessoas... Tem tanta coisa bonita nesses rostos 'feios' que a gente encontra! Em todas essas carências, rudezas, ruindades, arrogâncias ditas e não ditas, orgulhos, tem tanta coisa bonita! Isso me interessa agora, não estou interessada só no que a dor fez, mas como ela foi parar lá. Ir mais embaixo.
Dizer de novo: tantas coisas a lhe falar... Sem espaço.
Um dia a gente conversa.
Um abraço bem forte daqui, dessa que sempre lhe teve como um objeto amado, precioso,
uma pérola.
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Samstag, Oktober 3
Tês.
Freitag, September 25
Hoje.
Donnerstag, September 17
Mais sujeira.
Eu queria roubá-las de alguma forma daquele rosto desfigurado. Eles não permitiram 'não é isso' bradavam. Medo de abandonar a 'vida'. Falei: 'como é que posso continuar com esses colares se nem aquelas marcas podem fincar em mim?' A outra, que estava ao meu lado, balbuciou 'pegue devagar, aos poucos, eles nem irão notar'.
Fui eu, pés flutuantes, e tentei roubar pouco a pouco o que era dele - por direito.
'Faz tempo,' falou 'que sinto esses teus preparativos. Espera, garotinha ansiosa, isso aqui comigo também é seu por direito'.
Espero na beira daquele morro cinza até minhas pernas criarem fungos.
Hoje ele tenta colocar-me no sol.
'A beleza tem seu tempo, querida'.
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Montag, September 14
meios a meio
Samstag, September 12
pedestal
E quem disse que precisamos ser completos, querido?
Nas minhas aridezas e nas suas mediocridades, nao há o que complete um no outro.
Eu preciso da sua fala para reaver a minha.
Eu preciso que você me devolva o que é meu aí, em você.
Estou fazendo protesto pelos meus pedacos.
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sobre a dor.
As pessoas ao redor ficaram sem as violáceas, e ela sem a oportunidade de dá-las aos outros, juntando um sem fim violetas endurecidas pelo resto daqueles dias,
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Montag, September 7
Em valsas.
Samstag, September 5
In Black Big River
Estou por essas terras violetas.
A cidade cheira sobremesas, delícias.
Os pais da Ilma sempre tem uma boa história para contar depois do silêncio.
O meu amigo se descola na cidade como um ser pertencente àquilo.
A minha companheira de cama diverte-se ao som das labambas.
E, certamente, olha para aquilo-isso aqui com olhar de surpresa e gratidão.
Estou gostando muito daqui.
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Donnerstag, September 3
indentificação projetiva
Are baguandi!
Montag, August 31
Senhôr T.
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Sonntag, August 30
um outro.
Desde então, temos dissipado os gelos diários com o calor dos nossos toques diários.
Mittwoch, August 26
Sobre açougueiros.
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Aqueles bolsos de antes não cabiam mais aqui, sinto que de certa forma enfiei sacos vários de todos os tamanhos num buraco menor que uma cárie de dente. Olho as pessoas ao redor e simpatizo-me por suas histórias – por mais obscuras e irreais que possam ser para mim. O açougueiro, outro dia, olhou com os olhos graves para mim, e foi desfiando a carne devagar. É pulsão de morte isso de ficar dias e anos desfiando carnes, pesando-as, preparando-as para banquetes diários? O açougueiro seria assassino se a sua lâmina não cortasse as carnes dos animais? Às vezes imagino-me como uma grande vaca a ser demarcada e cortada. Esse dia quase pedi para que ele, cuidadosamente, usasse de sua faca para me fazer alimento. Farta estou dessas insanidades do pensamento, isso de me pensar fragmentos, áreas, limitações – isso de querer ser menor, uma agulhinha talvez, pontiaguda, a traçar as áreas menores desses sem-nome, dessas frações, frações e segundos frações e misérias. Deu me perceber bem menor que a bunda de um camelo pelo deserto, de habitar seu cu. Isso de construção a partir do engodo, a partir dessas minhas lascas marcadas a formão pelos meus dedos. Preciso contar ao mundo que existo, que posso riscar também, apesar de não estar afiada. Necessito do corte preciso de alguém por essas bandas, me chacoalhando, dando um tapa bem forte na minha cara.
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