Sonntag, Februar 28

Uma história sertaneja ainda vou contar.
,

engraçado isso de estar aqui sem recursos negar-me aos recursos - são fracos ou fraca sou eu vastidão e nem sei eu lidar com janelas com portas abertas ventiladas, prefiro fechar e ao calor abafado dedicar-lhe memórias mínimas mas sinceras. sinto que o ponto ao qual chego é descontrole desconforto desilusões vazio e aprendizado calcado na carne da experiência e o que me move a escrever o de sempre o arroz salgado o feijão aguado sobras restos um mínimo talvez nada dignidade talvez naqueles vincos do irreal marcas da pancada azedumes carne estragada podre dada aos cães guardiões da noite existiria alguma súplica ardente pelos que morrem pelos agonizantes desse dia e desfiaria um terço em honra às almas poucas às almas que nada habitam vácuo miséria esquecidas mortas por um assalto suspiro equivocado do destino. Dê de desamparo, derrelição, ouviste? recuperada estou mas sinto agonias do não sentir do estar em paz branca perder a sensibilidade leve o mundo não mais aqui não mais boca grande.

Mittwoch, Februar 24

Recostada a cabeça ao seu corpo, pensou amores e juras sinceras dessas vergonhosas apenas baixas pés de ouvido ditas. O seu corpo o meu corpo - era sempre o que dizia depois de estendermos os braços depois das nossas fodas depois de dissolvermos nossa ignorância no extremo absurdo de nós dois.

Mittwoch, Februar 17

 ,



estava como num fim num grito engasgado embasbacado preso à garganta. Sentiu-se meio de final um pouco suja um pouco perplexa com tamanhas mentiras sustentadas e as carências e as fáceis trocas que fazias pelo farelo de pão. Era gente baixa gente mesquinha aquela e ela bem sabia que os acúmulos e imperfeições e o transbordar sair de sua fôrma eram frutos de maldito ventre malditos vincos onde sujeiras e inconsciências recostavam. Já estava de pé ali no canto criando fungos e raízes podres criando sonhos vazios mentiras gostava de fingir estar inteira interessada nas conversas dos transeuntes dos passantes dos parentes dos amigos e tarefa difícil essa eu sei bem fincar chão fincar os nossos aparelhos e implorar por vida. Os joelhos gastos tantas quedas tantos desprazeres tantas armadilhas caídas e as mãos sujas enlamaçadas de tentar reerguer sem apoios ao redor sem um gancho uma mão nada vazio e a sensação de fracasso tristeza arrependimento de vida toda vez que revisitava o chão os lábios o tocavam solenes os olhos fechados aguados vencidos assolados daquelas realidades. Respirou um pouco, lembrou-se ensinamentos espiritualidades visões aversões os cus do mundo revisitados revistos a cada vez que habitava novamente o chiqueiro a bosta a cançãozinha de merda vinda daquela boca maldita gozo sêmen morte.
Por qual necessidade por um deus insolene ausente porque continuaria rastejando marcando rastros olhando por entre as janelas aflita pelo rosto do seu segredo da sua presença antes ignorada agora necessária agora entre os vivos entre os que legitimam a sua existência no mundo. Sentia os poros os olhos o corpo todo atento aberto ao seu toque sentia as atrações d'alma e seria capaz de revisitar o inferno se preciso fosse. Gostava de sentir-se assim, apesar da dor da inconsciência do monólogo da solidão daqueles sonhos não tocados no chão desenraizados clamando água terra barro fecundidade. Fez-se silêncio aquela tarde e o romper de uma longa noite de esperas frustrações invejas baixezas medo pavor o soco morto na cabeça o coração doído encolhido as murchas flores antes rosas agora de sangue cobertas aproximava-se.

Mittwoch, Februar 10

Da tabacaria vejo o mundo,

Ontem de noite ela saiu para comprar vestidos e trombou numa loja de cigarros. A loja almofadada curtida no aroma fumo tostado ou não zilhares de quilômetros queimados ao prazer do consumidor as putas com longas cigarrilhas os machos com suas toras por entre os dedos viris, o sexo aparente nas bocas nas mãos no hálito fosco queimado. Pegou um maço de cigarros simples, desses oportunos do dia e nem sabia o que faria com eles, nunca havia sequer colocado algum na boca nunca porque fedia porque queimava porque era moeda de troca de baixos e assassinos porque achava-se covarde demais e era assustadora essa coragem surgida do depois. Os vestidos eram para uma festa dessas de debutantes velhas, vadias do mundo que cercam a vida pro de cá e mantém soltos monstros construções do nada e sempre a mesma tecla o mesmo ato de esculpir borrarias baixezas d'alma medianias pelo nefasto pelo outro o pior. Limpavam o de dentro matando o mofo o úmido que floresce a natureza molhada o ventre a vida os vermes na boca. A tabacaria dispersou a vontade de rasgar-se em muitas. No perfume na queimada no prazer daquelas pessoas no circo armado negações de si apesar de todos os avisos de câncers e impotências, apesar dos fetos e das amputações, aqueles do dali entregavam-se às doenças às ameaças às pequenas dignidades talvez um pouco céticos do desastre que lhe ocorreriam tantos alarmes e sujos já estavam, não? Não estava por nenhum lado, acontece que farta estava daquela monotonia do limpo das debutantes vadias daquela noite, dos sorrisos e ensurdecedor silêncio daquela gente ouvinte nem do oco do osso do barulho rotineiro dos dias. Na tabacaria, a conversa pouca esgueirava-se pelos cantos e os olhares perdidos solitários apontados pelos instantes vazios de convivência escassa ou nada com o outro muito em si-próprias. Aquela prostituta em especial nada a vontade com o corpo que vestia com os homens ao redor com os penduricalhos que trazia no pescoço com os pedidos de fodas com os pagamentos em forma de dinheiro e dor. Apetite sentiu pela pele dessa aquela puta e chegou devagar, sussurrando no ouvido. Aos poucos, foi trocando de roupa, pegou os badulaques da outra e vestiu-os no pescoço, um sorriso de malícia de canto prazer e gozo incomensuráveis de estar ali habitando o antes sujo porco mal lavado mal vestido infrequentável merdas esgotos sórdido acariciou o corpo desejoso mergulhado no esquecimento ressuscitou o toque a visão o paladar ao colocar o maldito na boca tê-lo por entre os dedos, tocar o sexo olhar ao lado e homens e vontades e agora sentia-se cidadã do mundo, quer que fosse essa merda significar. Desligou seus celulares, absteve-se de seus compromissos com as porcas vadias ao avesso e foi ter com os amantes que a esperavam, com dinheiro e dor, essa noite.

Ao meu,

.




Ao teu silêncio cansei de ser devotada, não quero mais aforismos nem tuas míseras meiaspalavras e teus "descomprometimentos". Mandas-me soprar ao vento e dissecas o meu discurso conforme às tuas toscas vontades misérias supremas dizes eu manipular a tua dor eu estar mais afastada do teu curso de rio - eu sou bem culpada também nessa história, sim, mas por favor, não vou ajoelhar nos teus pés e pedir-te: esqueças essas palhaçadas esses maldizeres essa cabeça atormentada sujeitos e mais sujeitos. Vontade tenho de entrar no turbilhão e pescar-te da loucura. Tu não deixas. Ainda continuo com o meu melhor aqui para ti, acreditando você ou não.

Montag, Februar 8

do corpo úmido.

Por fora o corpo ainda fraco dentro mulher grande mulher que se deixava vestir inúmeras vestes todos os tons penduricalhos as coisas espalhadas pela casa, não sabia mais se empilhava ou encaixotava trapos quartos e quartos de solidões vastidões sem-fim. Farta estava dessa cruel lógica dos dias um dia fez-se crescida esfregou bem a pele pela manhã para ver se descamava aquele podre instalado nas suas frestas tantas misérias por deus, tanta sobra via-se com tanto e nenhum pouco para si, iludia-se cobria a pele pertences e mais pertences pobrezas foi despindo-se pensou nas mentiras acumuladas, despindo-se pensou na necessidade de tudo aquilo – a quem engano senão a mim mesma? Aparências de si aparências para si própria – às favas o outro, mentiras, repetia. Viu-se nua, a pele começava a descascar. Tirando foi delicadamente qual cigarra bicho que troca o que não lhe pertence mais – aquela vida merecia tez nova, riu da descoberta e tocou-se inteira, arrancando-se inteira num gesto de violência sutil. Descobriu pontos em si adormecidos, tempo cotidiano massa entupindo os poros casca dura agarrada à pele alguém disse insustentável leveza de ser – pensou ela no lanço dado à desgraça pensou nas maldições andar de braços dados com o medo sem desconfiança nos flertes com a demência e nos buracos nos quais esteve centenas vezes. Foi tirando devagar, doía demais estar entregue às suas vontades doía a falta de medo a coragem tomar rédeas – essa estranha alegria de conhecer-me respeitar-me e fazer o antes impensável. Sentiu o peso extraído das costas, retorceu bem o braço, alcançou as costelas puxou o peso morto respirou fundo as costelas estavam bem existiam as costelas ainda sustentavam pensamento boca seios braços para que alimente corpo coração, abraçavam o coração devem ser importantes pensou, acariciou o tórax e curvou-se um pouco – por quanto tempo continuaria a respirar e a vida que sempre respirou? Dar-se-ia jeito às coisas pessoas será que todos existem mas e as mãos do pianista leves fecha os olhos um pouco pesado o que vê ele em meio à sinfonias, tcherzos, duos, peças importâncias d’alma? Quero também despir meu corpo de notas, alcançar o silêncio não preciso mais estímulos externos não sei nada, meu bem, preciso arrancar esse peso distribuído no corpo a carícia tenta mas não adianta preciso de força esfregar bem, um dia um tal desnudo praça pública devolveu tudo o que não lhe pertencia e buscou o alto negou pai mãe sociedade descascou as camadas abruptamente foi ao núcleo de si recebeu chagas abraçou o necessário nada lhe faltou, não é mesmo? O que são faltas? O que são as obrigações casuais destes nossos dias? Embustes, arrancava mais pele via-se no topo enquanto queria habitar a lama esfregar o sujo na pele cheiros de espaço-nave eu não quero mais isso por favor vá embora, não agüento mais essas solidões forçosas, nem cotidianos mesquinhos, murchos de humanidade e erros – não, por favor, vá embora, estou despida, não há máscaras, meus defeitos todos estão aqui ao meu redor, não tenho nada a lhe oferecer só coisas baças, vulgares, odiosas, habito odiosas pessoas odiosos eus não sei mais se sirvo para as suas revelias meu pescoço não tem mais aquela superfície de outrora eu sei eram bem prazerosos aqueles dias mas vazios por favor ainda há muito enxofre aqui preciso continuar, tenho aparências fingimentos aparatos muitos por despir não existo mais agora sou outra – eu mulher renasço depois de anos eu mulher estou por vir é movimento precisão de espírito chegue mais tarde agora estou aqui aflita com medo e não quero a sua ajuda só eu sei terras penosas que preciso enfrentar só eu sei abandonos por viver – deixe-me ter experiências não me roube de mim preciso continuar preciso ter com meus ocos significar o vazio estou significando minhas dobras agora dispo-as não temos nenhum entrave agora elas olham para mim constituem corpo dão vazão a algo de mim compõe minha história meu passado – chega, chega maquiagem nas feridas, estou conversando com elas, regando-as na sombra devagar, elas existem não posso ignorar estou chegando lá por favor não me faça parar agora eu sei talvez seja doentio mas doentio seja mais estar conviver com a loucura de nossos dias loucura das pessoas hoje sem tempo para estar com as outras estar consigo próprias estão só com a superficialidade – minto, superficialidade que cobrem com massas e massas de insegurança e desvios de verdade o que é verdade um dia Ele perguntou. Não obteve resposta.

Vá, tenho que sentar, saber de mim, perguntar a mim mesma o que fiz com aqueles restos renegados ao esquecimento, eles estão aí? Preciso sentir o corpo tal qual Van Gogh e a orelha perdida – em nome de quê as coisas se dão? Descascar camadas de cérebro treinado e burro, de sensações abarrotadas de cheiros, temperos, toques. Isso de pensamentos, palavras, atos e omissões já sei bem eu mas não sei e quero saber disso de habitar o Olho, o cu do mundo de estar inteira. Vamos, arranque um pedaço de pele também, a dor não é imediata e instantânea, perdura anos abre outras possibilidades quiçá o mundo fique um pouco entediante, monótono e você conheça mais sobre outras coisas interesses adversos a solidão do capitão do mar encante-lhe tal qual super-herói. Conhecerá delícias sofrimentos da carne ficará mais esperto e sorrirá ao ver pessoas abraçadas aroma de alecrim besteiras saborosas. As papilas, os poros, audição, toque, suor, levezas e durezas e olhares e derepente não é mais nós lá é você só.

Donnerstag, Februar 4



Porque não me era sentido o odor de seu suor nem dois tempos atrás e agora faz-me perpetuar sombras perpétuas indignas de ti. Porque de teu calor e presença sempre distantes olhar vidrado no horizonte sinto falta vontade de quebrar os vidros que se põem entre você e o mundo do de fora e fazer-te esquecer um pouco de derrelições e loucuras - tragar-te do poço que lhe possui. Caminhadas leves e de compromissos às favas, vamos mesmo é sentir o ar circundante em nossas veias e vincos. Leria uns trechos de um livro num banco de praça e faria você rir das minhas entonações esdrúxulas a cada pausa de palavra no canto do papel. Riscaria as consoantes bobas, tipo o 'n', e ficarias puto. As letras merecem estar agarradas no papel, sem distinções. Discutiríamos filosofias vãs e então recostaríamos no silêncio, procurando palavras mas sem falar a boca nem abriria, engasgaríamos numa quebra que necessitaria de coragem para ser feita.

Na minha memória são dois num só



.