Donnerstag, Oktober 29

Atos

Ato 1 - como perceberam os ínfimos, gosto mesmo é dos amanheceres, dos sóis acordando passo largo longe na madrugada que se encerra. Corpo - campo vasto de sensações adormecidas noite adentro, agora um pouco mais puro no toque. Poros instáveis, sujeira e ar circulando, sonhos medo a carne exposta ao mundo sem proteção alguma. Sonhos muitos fluxo enxurrada passado-presente. Avós, tias, casa, deserto. Deserto a roupa largada e depois, bem lá encima, uma corda marcando o passo dos giros da terra. Acordou zonza e tocou levemente suas pálpebras. Mãos no pescoço olhos fechados agradeceu por estar viva.

Vestiu meias, sapatos, vestidos, calções, soutien.
À rua foi arremessada.

Sonntag, Oktober 25

Dostoiévski. Dedico minha primavera também à ti.




Dostoiévski - Anotações para 'Irmãos Karamazov'


"Com a força que sinto em mim, creio-me capaz de suportar todos os sofrimentos, contanto que me possa dizer a cada instante: "Eu existo". Entre tormentos, crispado pela tortura, mas existo! Exposto ao pelourinho, eu existo apesar de tudo, vejo o sol e, se não o vejo, sei que está lá. E saber isso já é toda a vida."



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Mais do mesmo.


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joios.

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Talvez num ponto escasso ela converta suas ideias em ações, tantas impotências, por deus... Escrever dedos soltos nas teclas era tão fácil, preferiria bater murros e arrancar palavras aos berros. Estar presente naquilo que chamamos 'dor da saída', inteira em seus porquês. Ela compreendeu perfeitamente a queda do poeta na janela, aquele mergulho corpo e pedras no rio. Sentou-se junto à escadaria, a cabeça caindo poços escuridões abaixo, 'queda livre, é isso enlouquecer? é a sensação de estar sempre sem um algo chão pisadas? loucos não pisam'. sentiu-se tragada por buracos abertos solo pegajoso, arrastar o corpo na lama dura e escura dessas razões tão fracas apresentadas. 'Bem sei eu que as palavras não brotam de um algo bater macio toque de seda. Bem sei eu amultuados caridades mendigações mediocridades fracassos  e umas sortes poucas para meia duzia de frases jogadas ao relento'. A boniteza fica ao olhos de quem lê. Todos os outros restos que constituem tais torpes palavreados, alimentar-se do joio oferecendo o trigo aos outros. Era esse o ofício do assassino? Oferecer a morte aos que temem? E se temem, por que?
Os outros continuam a travessia, pés colados nas estradas, sem muito espaço, contidas. Os nós travessias largas, pés no abismo ouro sujo carne venerada, desejada.
Comeu ela própria seus joios, certa de que algo bom aconteceria.


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Dienstag, Oktober 20

Tombo III

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A caminhada é experiência.  Raquel percebeu que inércia era o oposto de criação. Trancafiada no seu apartamento, olhar parado no horizonte branco estendido comprimentos a fio. Todos os horizontes encontram-se um dia, Deus lá sabe disso. Um rompante - queda brusca céu e inferno, e derepente estava ela sentada em antigas paisagens, cimentos de caminhos. Os passos, rastros todos imersos em possibilidades muitas, oeste, centro-oeste, coração, rim, tímpano, cegueira, cinismo, norte de sóis. Todoas estavam em si. O si mesma si própria, caída em farrafos na rua. Envergonhada ficou um pouco, enrubesceu, outros olhares nos dela; levantou-se desajeitada e pôs-se a traçar novamente seu trajeto.  O trajeto é também missão.  Missão doentia essa de percorrer o lodo, habitar todos esses traços encontrados, perder-se em caminhos opostos também pertencentes seus. O peso de cada passo, esmagando, moendo um pouco. Olhava amor, olhava rejeição, aquelas bestas estampadas nas folhas, repulsa, ódio, violência, escorrendo, desfacelando nas suas costas, cera quente corpo crostas dos maiores assimilos da história. Ela também matou Jesus na cruz, cuspiu na sua cara, sentiu fogo prazer o sangue do corpo fruto-bendito, amável, idolatrado, escarrado, pisado, sujo, morto. Prazer de impulso, sem saber porquês, penetras, lambes, uivos, vômitos, trepas com o próprio deus.
O caminho contínuo nas esquinas - um respiro.


Parou e de cara escadarias e cruz - igreja.
Passos a cima, à  porta foi levada,




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Freitag, Oktober 16

Cuando la fe mueve montañas





http://www.redesdecriacao.org.br/?p=197

Trabalho lindo do Francis Alys
Assistam o vídeo!

Donnerstag, Oktober 15

Tombo II

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Comprar flores tais quais túmulos floridos nascenças bem aventuranças, um quê daquela vizinha Virgínia que sempre ia aos bosques e povoava-se inteira silvestres, pequeninas. Raquel bem sabia dessas marcas minúsculas, um adendo no corpo da outra. Também sabia que nada de pequeno a fazia, comprou então copos, o leite derramado, girassóis e toda sorte de diâmetros extravagantes, encheu-se o tamanho do vazio de dentro, colorido. Iluminou uma vela, queimando-a inteira orações. O caminho da floricultura indas e vindas diárias das gentes, habitantes de um mundo alheio ao dela. Os olhos distantes, 'transeuntes porém...' pensava. Via-os passar, flores miúdas, e uma vontade enorme de pescá-los, experimentar uma pétala de cada ser. Sabia-os merecedores de toque carne e sexo. Pedintes, crianças, criminosos, velhos babões, putas velhas, o carcomido dos corpos, as ratazanas a passear, as bundas gordas, caídas ou faltantes pelancas, urubus, asas, rabos, insetos, falta de nojo. Queria dedicar-lhes toques e mais toques, habitá-los de desejo. Lia esses rostos e dava-lhes amor tímido, de longe.
Num segundo paralisada por essas enxurradas fluxos de consciência e agora agente de seus próprios pés, caminhantes também, errantes também.

Continuou a caminhada.

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Dienstag, Oktober 13

Tombo I

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Antes de nos demorarmos aqui, um agradecimento: Pai, Filho e todas as Almas.

Novamente falamos do hálito, agora amanhecido.
Ela levantou-se hálito morto na manhã e pôs-se a gracejar ternuras e sussuros as mãos nos seus cabelos. Ele murmurou gracejos manhas e virou-se para o outro lado, adormecido. Raquel saiu da cama e cumpriu com os hábitos matinais diários, sempre um olho espichado para o da cama. Fez duas torradas com geléias leite mel e serviu-as, quentes e mãos nas suas, chegou devagar e tocou o corpo nuca acordando-o, trazendo-o para respirar com ela. Eles comeram delícias leite e mel na cama, sentados, sempre com os olhos atentos. Ela lembrou de seus compromissos e ele correu atrasado enfiando jaquetas camisas e papéis nos bolsos e nas suas ranhuras.
Ele quis tomá-la de um assunto essa manhã. Ela percebeu e desviou.
Resolveu sair e comprar flores a sós.


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Mittwoch, Oktober 7

Pai

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Senti embaixo do meu nariz o hálito fosco de meu pai, vinho e alho. Quente o meu coração, transferência à infância no mesmo instante. As mãos grandes e fartas do pai, carregadas de segurança e carinho. A gente trabalhando junto na comida, no restaurante. Tempero de gente que ama. Lembro de perguntar coisas a ele, e ele enrubescendo mal responde, sente-se surpreso pela minha curiosidade. Tento sempre reforçar o afeto e romper a barreira que existe entre nós, autoridades construídas, agora um pouco esfaceladas. Destruindo esses muros, esses parcos buracos, crio outros tipos de passagem, pontes talvez.
Comprei um vinho, não sei se bom, para compartilhar com papai. Espero nos embriagarmos de nós no domingo que se aproxima.


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Tarkovski







Ao Ser Andrei Tarkovski, dedico minha primavera.

”diante da casa , estendia-se um campo, lembro que crescia trigo-sarraceno entre ela e a estrada que levava ao próximo vilarejo. O trigo sarraceno é muito bonito quando está em floração. A flores brancas, que dão efeito de um campo coberto de neve, ficaram em minhas lembranças como um dos detalhes essenciais e inesquecíveis da minha infância. Porém,  quando chegamos para decidir onde filmaríamos, não havia trigo-sarraceno a vista...apesar disso, arrendamos o campo e semeamos o trigo... As pessoas do kolkhoz não conseguiram esconder o espanto quando viram o trigo brotar: quanto a nós ,vimos essa conquista como um bom presságio.Ela parecia nos dizer algo sobre a qualidade especial de nossa memória-sobre sua capacidade de penetrar para além dos véus estendidos pelo tempo, e era exatamente sobre isso o filme: essa era sua idéia seminal.”

Falamos mais sobre ele. 






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Dienstag, Oktober 6

Para um alguém (in big river black)

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Há tempos pretendo essa conversa. O que está sendo difícil é dedicação tempo e ouvidos abertos. Não quero ser rebuscada nem prolixa. Não estou exigindo caras e amores e situações que extrapolam as nossas, como bons amigos que somos - ou éramos. Fato, sinto muito a falta de espaço para tratarmos de assuntos urgentes e importantes - para mim. A conversa sempre vai para outro viés e a impressão que tenho é a de que não interessa saber dessas coisas das de dentro de mim - daqui a pouco não temos mesmo um algo que nos ligue fim de semana. Sempre muito complicado para mim articular e falar desses movimentos interiores para você, que existem e existiram, as múltiplas transferências, projeções, o meu ego fraco que depositou em você um tudo de melhor, vários pedaços meus a serem reavidos, se você os largar, é claro. A nossa conversa sempre tende a uma não dedicação de sua parte, e isso eu não entendo o porquê - já lhe disse diversas vezes que seria cansativo, mas necessário à mim. Todas as suas pirações em relação à tudo que é meu, toda a sua projeção lado ruim em mim, você faz parte da sujeira também, querido, não tem como safar-se. Estamos juntos nessa, nós dois mergulhamos, nadamos pulsões de vida mas mais de morte, esquisóides que fomos desde o início. Tento reaver minha pulsão de vida, esta que está aí com você, e preciso da sua fala para reavê-la. Preciso que você tenha ao menos um pingo de afeto ainda e consiga falar e trocar comigo. Sei, posso estar pegando pesado demais isso aqui tão público exposto e tantas discordâncias mas foi o jeito que achei de furar o seu silêncio premeditado. Quando a relação é mais que você estar com o outro, mas o outro estar com você também, quando pesa para o seu lado, você espirra. Prestou atenção? Eu detesto estar escrevendo isso tudo aqui aflições e angústias e lágrimas muitas (porque desde sábado pesa sobre minh'alma uma angústia e pesar de sentir a sua resistência no lidar com as dificuldades, pensei que estaria diferente. Pensei que a teoria tinha ajudado na prática. O que não me faz nem considerar espirrar, desistir, é senso de responsabilidade. Você lembra, querido, 'tu és eternamente responsável por aquilo que cativas?' 'tu és eternamente responsável pela tua rosa?' A gente pode às vezes fugir do nosso planeta, mas a rosa estará lá esperando nosso cuidado. Nós já fomos cativados, não há mais tempo para fuga).
A conquista da outra alma se dá quando conquistamos a nossa. Você já tem essa alma conquistada? São tantas coisas a lhe falar, mas não há permissão.
Todos merecemos a morte, porque todos merecemos a vida. As duas estão intrinsicamente ligadas. Uma depende da outra para existir - respirar.
Eu queria lhe mostrar essa guinada maravilhosa que ocorreu na minha vida, e que me faz agradecer cada respiro que eu dou e cada pessoa que passa pela minha vida. Você me disse: 'Eu já senti isso, essa experiência do sagrado.' Que bom querido. Porém o que é melhor é viver isso todos os dias, estar respirando o mundo inteiro, estar habitado por tudo que nos faz ser, cada minuto, sem tempo para fofocas, maldizer, o ruim das pessoas... Tem tanta coisa bonita nesses rostos 'feios' que a gente encontra! Em todas essas carências, rudezas, ruindades, arrogâncias ditas e não ditas, orgulhos, tem tanta coisa bonita! Isso me interessa agora, não estou interessada só no que a dor fez, mas como ela foi parar lá. Ir mais embaixo.

Dizer de novo: tantas coisas a lhe falar... Sem espaço.
Um dia a gente conversa.


Um abraço bem forte daqui, dessa que sempre lhe teve como um objeto amado, precioso,
uma pérola.


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Samstag, Oktober 3

Tês.

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Sim sim, não era bem aquela sensação que lhes queria falar, até porque de sensações já bastam os homens máscara escura cinza paixonites e arrependimentos. Queria lhe falar dessas que a gente sente ao ler aqueles livros Guimarães e Clarices, aquelas dores povoando almas e pêlos. O que esta va pensando - e isso realmente corroía a minh'alma - é nos processos todos arrebatamentos prisões cortes interrompimentos transa dor morte do espírito ressurgimento de medos merdas todas digeridas por esses estômagos que aqui falam. Uma tarde a gente golpeia o espírito, de noite já queremos de volta o ente roubado. Pensei no meu eterno 'Tê', esse que me acompanha feito bíblia e pelo qual dedico toda a minha escassa produção de conhecimento, pensamento pouco umas dores nas entranhas (palavra inevitável essa, a contragosto). Gosto por estética, tudo nem tao bem colocado, mas bem pensado; escrita fluida, corrente imensa de desgostos e experiências jogadas sol de inverno e tantas estacoes por vir. Este mesmo Sol serve assassino e assassinado e grao e pao e cabeca e bosta e;
ontem foi a minha vez de estar privilegiada, inocente nas minhas visões, afundada na pele um pouco. Um Sol daqueles raios e meu olho cego milésimos de segundos e imensidão branco nuvem de algodão a superfície minha toda com prazer e felicidade irredutíveis. Ri um pouco. "Que besteira é essa, por Deus? Do que estas a rir?" De nada, besteira. Mistérios - respondi. Experiências pessoas podem ser compartilhadas, mas a partir daqui existe um algo que nao lhes deixa entrar mais. E eu nao quero que entrem. Todas essas coisas pertencem exclusivamente à mim;
Sem estética.



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