Ontem de noite ela saiu para comprar vestidos e trombou numa loja de cigarros. A loja almofadada curtida no aroma fumo tostado ou não zilhares de quilômetros queimados ao prazer do consumidor as putas com longas cigarrilhas os machos com suas toras por entre os dedos viris, o sexo aparente nas bocas nas mãos no hálito fosco queimado. Pegou um maço de cigarros simples, desses oportunos do dia e nem sabia o que faria com eles, nunca havia sequer colocado algum na boca nunca porque fedia porque queimava porque era moeda de troca de baixos e assassinos porque achava-se covarde demais e era assustadora essa coragem surgida do depois. Os vestidos eram para uma festa dessas de debutantes velhas, vadias do mundo que cercam a vida pro de cá e mantém soltos monstros construções do nada e sempre a mesma tecla o mesmo ato de esculpir borrarias baixezas d'alma medianias pelo nefasto pelo outro o pior. Limpavam o de dentro matando o mofo o úmido que floresce a natureza molhada o ventre a vida os vermes na boca. A tabacaria dispersou a vontade de rasgar-se em muitas. No perfume na queimada no prazer daquelas pessoas no circo armado negações de si apesar de todos os avisos de câncers e impotências, apesar dos fetos e das amputações, aqueles do dali entregavam-se às doenças às ameaças às pequenas dignidades talvez um pouco céticos do desastre que lhe ocorreriam tantos alarmes e sujos já estavam, não? Não estava por nenhum lado, acontece que farta estava daquela monotonia do limpo das debutantes vadias daquela noite, dos sorrisos e ensurdecedor silêncio daquela gente ouvinte nem do oco do osso do barulho rotineiro dos dias. Na tabacaria, a conversa pouca esgueirava-se pelos cantos e os olhares perdidos solitários apontados pelos instantes vazios de convivência escassa ou nada com o outro muito em si-próprias. Aquela prostituta em especial nada a vontade com o corpo que vestia com os homens ao redor com os penduricalhos que trazia no pescoço com os pedidos de fodas com os pagamentos em forma de dinheiro e dor. Apetite sentiu pela pele dessa aquela puta e chegou devagar, sussurrando no ouvido. Aos poucos, foi trocando de roupa, pegou os badulaques da outra e vestiu-os no pescoço, um sorriso de malícia de canto prazer e gozo incomensuráveis de estar ali habitando o antes sujo porco mal lavado mal vestido infrequentável merdas esgotos sórdido acariciou o corpo desejoso mergulhado no esquecimento ressuscitou o toque a visão o paladar ao colocar o maldito na boca tê-lo por entre os dedos, tocar o sexo olhar ao lado e homens e vontades e agora sentia-se cidadã do mundo, quer que fosse essa merda significar. Desligou seus celulares, absteve-se de seus compromissos com as porcas vadias ao avesso e foi ter com os amantes que a esperavam, com dinheiro e dor, essa noite.
UOL, Entrevista Roberto Romano
vor 8 Jahren
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