Sim, é dor o que eu sinto agora, comedida estando à beira de um precipício estando num fúnebre silêncio estando absorta pela falta de um eu próprio de um eu firme de um eu presente de um eu que acolha os frutos frustrados frutos podres frutos sem alma. Necessitaria eu de alguma sórdida razão para continuar com essa loucura árida seca feito mãos na enxada anos sem chuva - é necessário conviver solos estéreis, não disseste isso? Não colocaste o dedo na minha ferida e sem responsabilidades jogaste-me pobrezas o meu ressequido, por deus, como ressuscitar agora, já que nem a crença nos meus mortos nos meus antepassados existe? Como continuar se perduro rastejando inflamada a qualquer alarde como quem possui o uno a verdade a cada instante, e a cada instante as coisas transformam-se trágicas e invadida sou de ódio inofensivo nunca cessam as tempestades com a boca aberta grito um som surdo, sem forças, delegado ao esquecimento.
Gostaria eu de entregar-me à não-memória, entregar-me ao drama barato, às chantagenzinhas baixas de quem vive o nada, entregar-me à merda da vida desses dias deixar faltar a força o braço o osso oco do meu corpo quero entregar a ti, verme leitor, as minhas carnes apodrecidas relento juntamente com as moscas, as larvas, o mal cheiro fedor a minha putrefação - hoje celebro com vinho azedo, fermentado, a camila estragada que nasce do vazio de sentido do vazio da miséria de ser de sentir de nada ter a lhe ofertar a não ser cabeça coração e mistério. A perda de mim, a outra que se pôs e faz um aceno tirando-me tripas pulmão fuligem dando-me tiro nas têmporas esmagando-me as ideias as merdas. O que sabes de ser invadido por um milhão de litros de água e um segundo depois ter sede no saara habitar o suspenso a cavidade sem ar sem terra sem consolos nem toques nem de um lado nem do outro experimentar o insosso a clarice pediu para experimentar mas poucos o colocam na boca fazem disso fruto bendito de vidas e como é isso eu não sei e como é isso de ser sempre um pouco mais um na multidão um pouco mais um nessas vias abertas os pés na cidade que desmorona os pés suspensos não quero essa estranha sensação - ah, querida, como se houvesse escolha, recusar-se é um dar-se ao luxo que não lhe cabe agora. Eu te desejo, ilustre desconhecido, para dividir o que não sou, as minhas mentiras, e você incompreensivo, dirá: 'ah, não se preocupe, ficará tudo bem'.
A casa que quero para mim não tem muros nem entradas. Entra-se nela pelas frestas.
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