Donnerstag, Januar 28



Nesse dia eu estava assim. Um monstrinho.



Desenho antigo, Jesus era a salvação fake no meu sonho, tipo Enri Cristo.

Cheiros.

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Descamando as cascas, sobreviveu ao inferno até agora, porque não um pouco mais? Enlaçou-se devagar recuperou um pouco das plantações largadas caçou o infinito de si sabia tarefa árdua havia muitas acumuladas muitas penas muitos nós muitas serragens espalhadas muitas a por fazer. Danos amontoados o grosso da superfície descascando o pior o pior sujo o pior agarrado o pior tantas vertigens tantos suicídios por vir tantos erros danações humilhações cuspes na cara pisaste o chão embolorado das memórias que não quiseste tocar pisaste o úmido do olho fétido esquecido pisaste areia movediça foste engolida por velhas por escárnios mal-dizeres borrarias deixaste-a ir porque não quis perpetuar a espécie? Não vale a pena não é mesmo? Então me diga porque as lágrimas acumuladas peito sombra crianças infernais correndo praça acima praça abaixo nenhum pouco conscientes do peso que as leva porque probo de enlaço e tempo seus? Pensa-se reto estonteante – hoje despistes o teu vestido mais bonito, aquele cetim-rubro laços discretos nas pontas. Esfregou bem o de dentro, viu-se nua, foi ter com o espelho e tocou faces brancas dentes amarelos sexo rosa-morto. O chão era turquesa e caía bem com dias como esses. Forrou a porta, janela e resolveu tirar tudo de si – mentiras, tudo mentiras. Aquilo saiu e se retorno sempre ao ponto é porque doloroso era tocar nesses assuntos pegar encarar de frente materializar admitir existência dos desgostos – padeceu ela agora sob pôncio Pilatos, sepultada e agora ressuscitando os antigos mortos.


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Samstag, Januar 23

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Sensibilidade não preenche vazios de ninguém, às favas com esse discursinho morno, trépido.



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Montag, Januar 18

chegaríamos,

Digo: aquilo ali nada tem a ver com o incomensurável, o divino, o rosto esfregado no barro, no ócio letárgico o corpo cai quebra um pouco o corpo partido em dois o corpo um nada dedicado ao abismo de ser ao abismo de estar com eles a dor me invade é preciso coragem física, é preciso decência mínima esbravejar espantar a dor o ressentimento de lhe ver pouco de lhe tocar um pouco a frustração de ter lhe visto desde o começo próximo muito próximo e agora acho que começo a entender a sua custosa decisão. Sim, bem sei eu o quanto difícil foi para ti esse afastamento esse abandonar-se no deserto. O sagrado lhe habita todo, pés e mãos e tórax, mais um pouco e sim sim, serás arrebatado aos céus, meu bem, aos céus d'onde ouvirei sua voz suave a encostar no meu ouvido na minha pele o toque e pensarás: saravá com as suas delícias deleite-se comigo amor, deleite-se e ouviremos o toque ameno longo perpétuo dos sinos do rito do cotidiano abastado pouco valorizado poderíamos perder o fôlego em nós e isso nada teria a ver com as indecências daquele povo as sexualidades abusivas muito banalizadas; seríamos um rito nosso eu-ti constante, e Deus lá de cima abençoaria-nos.
Agora preciso tomar fôlego e buscar algumas linhas soltas no jardim de fora.
Medicação suspensa e as dores dessa difícil escolha. Não sei por quanto tempo.

Freitag, Januar 8

flácida,

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Sim, é dor o que eu sinto agora, comedida estando à beira de um precipício estando num fúnebre silêncio estando absorta pela falta de um eu próprio de um eu firme de um eu presente de um eu que acolha os frutos frustrados frutos podres frutos sem alma. Necessitaria eu de alguma sórdida razão para continuar com essa loucura árida seca feito mãos na enxada anos sem chuva - é necessário conviver solos estéreis, não disseste isso? Não colocaste o dedo na minha ferida e sem responsabilidades jogaste-me pobrezas o meu ressequido, por deus, como ressuscitar agora, já que nem a crença nos meus mortos nos meus antepassados existe? Como continuar se perduro rastejando inflamada a qualquer alarde como quem possui o uno a verdade a cada instante, e a cada instante as coisas transformam-se trágicas e invadida sou de ódio inofensivo nunca cessam as tempestades com a boca aberta grito um som surdo, sem forças, delegado ao esquecimento.
Gostaria eu de entregar-me à não-memória, entregar-me ao drama barato, às chantagenzinhas baixas de quem vive o nada, entregar-me à merda da vida desses dias deixar faltar a força o braço o osso oco do meu corpo quero entregar a ti, verme leitor, as minhas carnes apodrecidas relento juntamente com as moscas, as larvas, o mal cheiro fedor a minha putrefação - hoje celebro com vinho azedo, fermentado, a camila estragada que nasce do vazio de sentido do vazio da miséria de ser de sentir de nada ter a lhe ofertar a não ser cabeça coração e mistério. A perda de mim, a outra que se pôs e faz um aceno tirando-me tripas pulmão fuligem dando-me tiro nas têmporas esmagando-me as ideias as merdas. O que sabes de ser invadido por um milhão de litros de água e um segundo depois ter sede no saara habitar o suspenso a cavidade sem ar sem terra sem consolos nem toques nem de um lado nem do outro experimentar o insosso a clarice pediu para experimentar mas poucos o colocam na boca fazem disso fruto bendito de vidas e como é isso eu não sei e como é isso de ser sempre um pouco mais um na multidão um pouco mais um nessas vias abertas os pés na cidade que desmorona os pés suspensos não quero essa estranha sensação - ah, querida, como se houvesse escolha, recusar-se é um dar-se ao luxo que não lhe cabe agora. Eu te desejo, ilustre desconhecido, para dividir o que não sou, as minhas mentiras, e você incompreensivo, dirá: 'ah, não se preocupe, ficará tudo bem'.
A casa que quero para mim não tem muros nem entradas. Entra-se nela pelas frestas.



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