Freitag, September 25

Hoje.

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Não pensava mais em nada a não ser naquela sensação de abandono. Todas as pessoas ao redor queriam largar casa família dinheiro tranquilidade e eu só querendo experimentar um pouquinho disso-tudo. Almocei solidões naquela tarde. Subi a ladeira arrastando as gentes ancestrais e meu próprio passo. Os olhos sempre flutuando a paisagem e fixados longe, arvoredos e raiva, nuvens cinzas de passagem. As mãos pela primeira vez voltaram-se dentro, não útero intestino pulmões, mas sufocamento cérebro e coração pulsando morno compassando ritmos aceleração e descanso. O pé de amora no meio do caminho foi pouco para a vontade. Quis andar por entre milhares de pés todas as espécies vermelhas alaranjadas e azuis esverdeadas, textura firme-manga, pele seda-ameixa, tempo damasco-sóis.
No pé da amoreira, milhares de amoras mortas, esmagadas, podres. Árvore bem formada não evita desastres. As amoras, quando maduras, servem indústria andante asfalto terra verme cão e passarinho. Ficam a mercê das coisas que passam por elas. Eu consegui alcançar duas ou três no tempo certo. Estavam verdes o restante dos frutos pendurados. Quando consegui parar emoções - um segundo só - cheguei à porta. Abriu-se e pude pôr à prova milhares e quilômetros de tecidos encobrindo meus. Duro cortar essas cascas formadas meses anos nesse pinga-gotas homeopatias de dor empedrada experiências morte mercês nada resolvidas. Raízes sem solo por penetrar, às vezes um bumbo a bater nos lencóis e quadris mas nada muito certo. Ultrapassei a porta e tentei deixar armações fuga fortaleza ciência para fora. Liturgia das horas - hora reservada ao meu reverberar para fora angústias talvez dilaceramento d'alma todas essas nossas vivências por viver, vivências por esperar o olhar.
Transbordei um pouco além daquele meu prato de sempre, e a guardiã daquela porta me colocou num recipiente maior, acrescentando uma pitada a mais de fermento.
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Donnerstag, September 17

Mais sujeira.

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Eu queria roubá-las de alguma forma daquele rosto desfigurado. Eles não permitiram 'não é isso' bradavam. Medo de abandonar a 'vida'. Falei: 'como é que posso continuar com esses colares se nem aquelas marcas podem fincar em mim?' A outra, que estava ao meu lado, balbuciou 'pegue devagar, aos poucos, eles nem irão notar'.
Fui eu, pés flutuantes, e tentei roubar pouco a pouco o que era dele - por direito.
'Faz tempo,' falou 'que sinto esses teus preparativos. Espera, garotinha ansiosa, isso aqui comigo também é seu por direito'.

Espero na beira daquele morro cinza até minhas pernas criarem fungos.

Hoje ele tenta colocar-me no sol.
'A beleza tem seu tempo, querida'.



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Montag, September 14

meios a meio

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Acordou e lavou o rosto. Restaram algumas remelas nos cantos dos olhos. Escovou os dentes e logo fumou um cigarro. Acordou com o pé esquerdo, como sempre - era canhota. Ela voltou-se e procurou o algo que estava incomodando desde aquele primeiro piscar de olhos do dia. Talvez a impossibilidade de uma reflexão séria a atrapalhasse. Ficou irritada com essa falta de diálogo com ela. Não conseguia decifrar os códigos internos. Pensou nos externos, então. Precisava revirar, remexer algo. Pensou nas coisas que tinha feito no dia anterior, nas semanas anteriores, nos meses anteriores, nos anos anteriores... Nos desenhos mais ou menos feitos, nas leituras mais ou menos feitas, nas sensações mais ou menos vividas, nos desejos mais ou menos decifrados, nas perguntas mais ou menos formuladas, nas entregas mais ou menos, no olhar mais ou menos, no medo mais ou menos. Sentiu o corpo meio vazio e a carne meio marcada. Aquilo a deixava muito nervosa. Acendeu outro cigarro. Pensou na dor que vivia, a mesma dor de tantas outras pessoas ao redor, pulsando coragem e socorro. As suas 'conquistas' pouco significativas. A vontade de ser grande num cérebro tão pequeno. As veias saltadas de sangue e ódio. Percebeu que na verdade a sua existência exigia nada. Nome, rg, cpf, título de eleitor, carteira de motorista, passaporte de um fantasma. Vida de fantasma. Impossibilitada por ela mesma de falar de si, de significar-se, dar corpo. A sua existência nem era tão prazerosa assim. Talvez para as fofocas do dia, dos pesares dos outros, de ser cabide. Não percebia os instantes sérios e os instantes de se fazer séria. Era sempre aquele pedaço de carne com dois tocos enfiados chamados pernas e um sistema nervoso central que lhe permitia ver, ouvir, falar e sentir algumas coisas. Colocaram uma gralha dentro dela, mais ou menos sádica, mais ou menos masoquista, mais ou menos depressiva, revestida de um sorriso e gargalhadas que ela não conseguia controlar. Ria e queria parar de rir, a gralha não. Então ela fica soltando seu riso desesperado por aí, tentando compreender os porquês dessas suas pobrezas e mediocridades.


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Samstag, September 12

pedestal

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E quem disse que precisamos ser completos, querido?

Nas minhas aridezas e nas suas mediocridades, nao há o que complete um no outro.

Eu preciso da sua fala para reaver a minha.
Eu preciso que você me devolva o que é meu aí, em você.


Estou fazendo protesto pelos meus pedacos.




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sobre a dor.

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Nas suas violáceas recostavam-se há tempos. Ela sempre separava um tantinho para as ir derramando ao longo do dia, mas sempre a roubavam, entao nao havia mais nem para o resto daquele dia nem nos próximos. Tentou pensar num jeito de espalhá-las aos poucos, sem tanto dano, devagar. Quando se deram conta da mazela, marcaram o seu braco com um aperto forte de mao e mandaram-na voltar para o lugar.
As pessoas ao redor ficaram sem as violáceas, e ela sem a oportunidade de dá-las aos outros, juntando um sem fim violetas endurecidas pelo resto daqueles dias,




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Montag, September 7

Em valsas.

Havia mel escorrendo da sua boca quando quis gritar. Pensou nas suas imagens e numa maneira de dissolver as suas águas. O que acontecia, essa estranha tristeza que sentia, a prendia num uniforme listrado cinza/chumbo. Ela quis fazer firula, chamar a atenção dos transeuntes, mesmo sabendo o rosto que lhe importava. Acendeu o cigarro e cantou devagar suas alegrias baixinhas, picadinhas de mosquitinhos no verão.
Já haviam se passado três horas de sua partida. Ela não entendia como conseguir viver naquilo 'inhos', pequeninas sensações estrondosas por dentro o peito, caixa que batia descompassada. Um coisa estranha aconteceu naqueles dias, e depois da despedida tudo ressoava, céu vento rosa-preto vibração no corpo e uma imensa vontade de pôr aquelas águas presas para fora. Não sabia de fato o que era isso de ser peixe nuvem algodão , fogo brasa mar coisas opostas dentro de um mesmo ser. Descobriu dar as mãos num segundo e sentir-se envolvida, milésimos depois ser arrastada para o árido que habitava grandes tempos.
Pegou delicadamente a dançarina e preencheu seus vazios valsando seus imaginários, templos instáveis de dor e prazer etéreo. Não conhecia seus rostos, guiava desconhecidos para dentro de si, estabelecia relações logo desatava os nós frouxos que os envolviam e caminhava a outros, passo vacilante e intoxicava um pouco o ambiente com risadas e brincadeiras. O passo rápido, fugindo de um algo que lhe tirava a dor dos calos dos pés.
Descobriu um nele que lhe jogou em desaforos e sinceridades. Ela aprendeu muito bem a lidar com esse de noites afio sem aquelas vozes.
E continuou sua valsa rumo a um lugar, uma terra do sem-nome, bem perto de seus calcanhares.

Samstag, September 5

In Black Big River

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Estou por essas terras violetas.
A cidade cheira sobremesas, delícias.
Os pais da Ilma sempre tem uma boa história para contar depois do silêncio.
O meu amigo se descola na cidade como um ser pertencente àquilo.
A minha companheira de cama diverte-se ao som das labambas.
E, certamente, olha para aquilo-isso aqui com olhar de surpresa e gratidão.
Estou gostando muito daqui.



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Donnerstag, September 3

indentificação projetiva

Então, um dia, Camila descobriu que precisava reaver os pedaços que tinha deixado nas pessoas ao redor. Camila foi saudando-as, uma a uma, com carinho no olhar e ferida na pele.
Aos poucos Camila espera recuperar-se dessa história de junção de fragmentos. Também sabe que haverão pedaços que não se reaverão nunca.
Mas Camila certamente aprenderá a viver com essas faltas.

Are baguandi!