Não pensava mais em nada a não ser naquela sensação de abandono. Todas as pessoas ao redor queriam largar casa família dinheiro tranquilidade e eu só querendo experimentar um pouquinho disso-tudo. Almocei solidões naquela tarde. Subi a ladeira arrastando as gentes ancestrais e meu próprio passo. Os olhos sempre flutuando a paisagem e fixados longe, arvoredos e raiva, nuvens cinzas de passagem. As mãos pela primeira vez voltaram-se dentro, não útero intestino pulmões, mas sufocamento cérebro e coração pulsando morno compassando ritmos aceleração e descanso. O pé de amora no meio do caminho foi pouco para a vontade. Quis andar por entre milhares de pés todas as espécies vermelhas alaranjadas e azuis esverdeadas, textura firme-manga, pele seda-ameixa, tempo damasco-sóis.
No pé da amoreira, milhares de amoras mortas, esmagadas, podres. Árvore bem formada não evita desastres. As amoras, quando maduras, servem indústria andante asfalto terra verme cão e passarinho. Ficam a mercê das coisas que passam por elas. Eu consegui alcançar duas ou três no tempo certo. Estavam verdes o restante dos frutos pendurados. Quando consegui parar emoções - um segundo só - cheguei à porta. Abriu-se e pude pôr à prova milhares e quilômetros de tecidos encobrindo meus. Duro cortar essas cascas formadas meses anos nesse pinga-gotas homeopatias de dor empedrada experiências morte mercês nada resolvidas. Raízes sem solo por penetrar, às vezes um bumbo a bater nos lencóis e quadris mas nada muito certo. Ultrapassei a porta e tentei deixar armações fuga fortaleza ciência para fora. Liturgia das horas - hora reservada ao meu reverberar para fora angústias talvez dilaceramento d'alma todas essas nossas vivências por viver, vivências por esperar o olhar.
Transbordei um pouco além daquele meu prato de sempre, e a guardiã daquela porta me colocou num recipiente maior, acrescentando uma pitada a mais de fermento.
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