Montag, Mai 13

Voltar?

Sinto-me enferrujada, leio os antigos e não me reconheço; ao mesmo tempo ainda há tanto de mim que fico sinceramente incomodada. Talvez eu seja esse amontoado de pensamentos sensações sentimentos não ordenados caóticos de difícil resolução. Porém, existe dentro de mim uma bola de angústia no peito que pressiona pressiona e só sai quando pouso as mãos no teclado, no lápis e algo dali sai.
Recomeço assim, arrastando, de escrita feia e vulgar. Espero melhorar aos poucos.

Freitag, November 12

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Um amigo é quase um segredo que, apresentado a outros, cria laços e vida própria. Sinto ciúmes quando as coisas saem do meu controle.

Samstag, Oktober 16

Tentativas de escrita fracassadas

Tentativa 1:

Por entre seus peitos abertos, prostrou-se em meio cacos de vida esparramados no chão. Descobriu algumas daquelas preocupações patológicas nos rastros enlamaçados que via de si própria , terra-barro vermelha subindo por sobre os dedos contaminando a pele lentamente. O movimento pertencia à ele.

Tentativa 2:

Desfez o salto dado no ar há pouco. Desceu no cume dessa montanha de tez baixa, fraca, quase murmurando água e pressentimentos. Afundou-se na voz que vinha, longe, quase de fiapos. E de fiapos compôs-se para voltar à casa. Sentia os pés novamente limpos, a roupa novamente lavada e a postura de novamente rumar ao conhecido. Queria da duração do instante a eternidade, seja ela qualquer sujeira que fosse. Só desejava existir plena e sabia da falácia desse discurso vendido facilmente nas esquinas dessa sua antiga morada.

Tentativa 3:

Hoje, pensou, formularei discursos coerentes, encadeados de forma que reclamações não invadam-me assim, supetão. Poderei falar-lhes desses vazios que constroem as nossas moradas, dessas camadas quase-nada entre nós e nós mesmos. Estava eu deitada e assaltada fui de visões dentro de visões

Tentativa 4:

Construí para mim mesma uma casca forte de argumentos, proteções,


Tentativa 5:

Ao sair de casa esqueceu-se dos cartões de convite da sua última festa na mesa. Talvez fosse o último encontro com a maioria de seus amigos e estava ali, por sempre sabotar-se. Pensou voltar para buscar mas assaltou-lhe a certeza de que os encontraria novamente, dentro breve, e assim poderia-lhes entrega-los. Pensou em convidá-los por e-mail, mas os convites já estavam todos impressos com o melhor papel, a melhor diagramação, a melhor letra, o melhor resultado. O correio demoraria e não teria tempo de ir em suas casas para lhes entregar.


Tentativa 6:

Deslizou os dedos no papel virgem pendurado na parede e percebeu risco de fora a fora. Fechou os olhos e continuou por riscar o papel, quase intuitivamente, minimizando seu controle. O risco oscilava de espessura, de comprimento, sentido, formando



Assim.

Eu viveria assim, de canto, observando o encontro de cada passo com o chão que o suporta. Vigiaria teias de aranha formando-se nos tetos, quinas, e talvez as alimentaria com água e pedaços de solidão. Eu supostamente faria de minha existência um ínfimo acontecimento, e vigiaria o silêncio com o rigor de um eremita que há quarenta anos observa jejum, areia, deserto. Construiria um nicho num barranco qualquer e ficaria por cantarolar pássaros, aldeias de outrora e formigas por picar meus dedos, lembrando-me condição de vida. Abrigaria os meus transeuntes, os meus egoísmos, derrotas, e talvez para as vitórias cedesse um cantinho sujo de consciência e deveres. Recolheria restos de folha podre, largadas ao vento para que minhas faltas - palavras, sentido, olhar, outros, imagens das possibilidades perdidas, das lembranças que ainda persistem no tempo coubessem nos meios, intermédios desses espaços recém-projetados. Arduamente prepararia um fosso enorme para minhas paralisias, leros-leros, inconstâncias, machucadozinhos, besteirinhas, sintomas. Resolveria assim a questão: sem discussões, problematizações. Recuso-me a viver assim, demasiada entregue à algo, prefiro o estar dentro sem nem tanto pensar, apenas a cabeça baixa e coisas oscilando entre dentro e fora, dentro e fora, dentro e fora.

Freitag, September 17

Sentia o ar denso e monstrinhos a habitar corpo, pesados como bolas de aço presas aos pés. Estava por descobrir seus lugares-incomuns. Estava não, descobriu o momento-seguinte, a marcação dos dedos no inferno que era não conseguir fazer-se entender por ouvidos e olhos dos outros.

Dienstag, August 31

Talvez naquela hora derradeira eu finalmente acreditei que os pressentimentos pré-morte vinham numa alada sensação corpórea, tato, cheiro, do daquela presença a circundar a sala vazia ao lado e logo após tal qual fumaça embriagar os ambientes todos. Sim, porque outro dia fui visitada - e nem me lembro antecedentes - por aquela dos nossos receios desconhecidos, e senti a presença na superfície, o seu toque acordando minhas células, exigindo instintos de sobrevivência, ser arisco, ser lugar-nenhum. Deu-se assim o estopim: deitada estava, pensamentos longe, descomprometidos e num momento abrupto sinto um toque no meu rosto, carícia de quem admira - na hora entendi que tratava-se da morte, não de foice, enegrecida, mas apenas uma passante-visitante. Fiquei quieta, esperando o que talvez tivesse a dizer. Porém, da mesma maneira que veio, foi-se. Acariciou-me inteira, toque aveludado, quente. Senti vontade de entregar-me àquilo, de ser levada à sua revelia, rodopiando aquela nova maneira de ver outros lados, outros olhares do mesmo. Viver madura, viver o tempo, vinculos desfeitos, andar pés no barro do divino.

Dienstag, August 17

O cheiro daquela terra flutuante persistia por adentrar poros. Eu somente queria adensar-me em mim e ficar restos de dias instalada nos naqueles nichos de madeira podre, barrancos, vermelhidões. Sentia cada passo como queda marcada, como pé latejante desejoso percorrer encontrar sentidos. Estar à beira de corpo também exigia sacrifícios tolos e muitas apegações. Então vi-me não mais circular habitando-me centro mas sim pequenina borda irregular e varões folhas o pensar escasso - o ritmo compassado de decisão assim, de pressa, de quem não mais pertence àquela vida, a essa vida de agora, comprimida, necessitada de tantos outros aléns, tantas carências por desvenciliar, tantos erros por reparar sem lamúrias ou reclamações - apenas sei-me menos por cada calcanhar tocado a terra, cada sopro dado à tempestade, cada engasgo do meu falso, do meu fio de navalha a sustentar existência chula, indiferente. De querer ventar-me e ser barroca nos pontos de encontros, sinuosidades, dobras,