Samstag, Oktober 16

Assim.

Eu viveria assim, de canto, observando o encontro de cada passo com o chão que o suporta. Vigiaria teias de aranha formando-se nos tetos, quinas, e talvez as alimentaria com água e pedaços de solidão. Eu supostamente faria de minha existência um ínfimo acontecimento, e vigiaria o silêncio com o rigor de um eremita que há quarenta anos observa jejum, areia, deserto. Construiria um nicho num barranco qualquer e ficaria por cantarolar pássaros, aldeias de outrora e formigas por picar meus dedos, lembrando-me condição de vida. Abrigaria os meus transeuntes, os meus egoísmos, derrotas, e talvez para as vitórias cedesse um cantinho sujo de consciência e deveres. Recolheria restos de folha podre, largadas ao vento para que minhas faltas - palavras, sentido, olhar, outros, imagens das possibilidades perdidas, das lembranças que ainda persistem no tempo coubessem nos meios, intermédios desses espaços recém-projetados. Arduamente prepararia um fosso enorme para minhas paralisias, leros-leros, inconstâncias, machucadozinhos, besteirinhas, sintomas. Resolveria assim a questão: sem discussões, problematizações. Recuso-me a viver assim, demasiada entregue à algo, prefiro o estar dentro sem nem tanto pensar, apenas a cabeça baixa e coisas oscilando entre dentro e fora, dentro e fora, dentro e fora.

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