Montag, Mai 24

Para que a alma não desfaleça

Acordei por cutucões fortes no joelho. Abri os olhos aflita e vi um monstrinho indo embora, entre risadas e deboches. Instantes e ainda não acreditava muito no ocorrido. Uma espécie de arrepio subiu-me espinha pescoço nuca medo de estar dentro de algo na qual nem sei o nome, possuída por entes e vozes que luto para transpor.
Assim, de pronto povoada estava de dúvidas e sofreguidão quando abafei um grito dilacerante d'alma - e entenda-me, tal grito era-me importante, constituía nascimento e responsabilidade d'uma dor recém surgida, pulsante; abafá-la por receio de olhares adversos, julgamentos não pertencentes a mim só fez-me ser mais um pouco assassina de mim mesma: morte lenta não desejosa. 
E talvez devesse desculpar-me pelos enferrujos, misérias, atos e omissões; pela falta de forma e o modo que são construídas as relações e ausências. Talvez tudo deva feder um pouco, mas me é necessário esse movimento: tirar as carcaças devagar, cuidando para que a carne não desfaleça, atenta à alma presa ao corte reto, dando-lhe precisão. Jogar oxigênio à ferida, fazendo-a borbulhar e arder como pimenta e sal aos olhos. 

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