Samstag, Oktober 16

Tentativas de escrita fracassadas

Tentativa 1:

Por entre seus peitos abertos, prostrou-se em meio cacos de vida esparramados no chão. Descobriu algumas daquelas preocupações patológicas nos rastros enlamaçados que via de si própria , terra-barro vermelha subindo por sobre os dedos contaminando a pele lentamente. O movimento pertencia à ele.

Tentativa 2:

Desfez o salto dado no ar há pouco. Desceu no cume dessa montanha de tez baixa, fraca, quase murmurando água e pressentimentos. Afundou-se na voz que vinha, longe, quase de fiapos. E de fiapos compôs-se para voltar à casa. Sentia os pés novamente limpos, a roupa novamente lavada e a postura de novamente rumar ao conhecido. Queria da duração do instante a eternidade, seja ela qualquer sujeira que fosse. Só desejava existir plena e sabia da falácia desse discurso vendido facilmente nas esquinas dessa sua antiga morada.

Tentativa 3:

Hoje, pensou, formularei discursos coerentes, encadeados de forma que reclamações não invadam-me assim, supetão. Poderei falar-lhes desses vazios que constroem as nossas moradas, dessas camadas quase-nada entre nós e nós mesmos. Estava eu deitada e assaltada fui de visões dentro de visões

Tentativa 4:

Construí para mim mesma uma casca forte de argumentos, proteções,


Tentativa 5:

Ao sair de casa esqueceu-se dos cartões de convite da sua última festa na mesa. Talvez fosse o último encontro com a maioria de seus amigos e estava ali, por sempre sabotar-se. Pensou voltar para buscar mas assaltou-lhe a certeza de que os encontraria novamente, dentro breve, e assim poderia-lhes entrega-los. Pensou em convidá-los por e-mail, mas os convites já estavam todos impressos com o melhor papel, a melhor diagramação, a melhor letra, o melhor resultado. O correio demoraria e não teria tempo de ir em suas casas para lhes entregar.


Tentativa 6:

Deslizou os dedos no papel virgem pendurado na parede e percebeu risco de fora a fora. Fechou os olhos e continuou por riscar o papel, quase intuitivamente, minimizando seu controle. O risco oscilava de espessura, de comprimento, sentido, formando



Assim.

Eu viveria assim, de canto, observando o encontro de cada passo com o chão que o suporta. Vigiaria teias de aranha formando-se nos tetos, quinas, e talvez as alimentaria com água e pedaços de solidão. Eu supostamente faria de minha existência um ínfimo acontecimento, e vigiaria o silêncio com o rigor de um eremita que há quarenta anos observa jejum, areia, deserto. Construiria um nicho num barranco qualquer e ficaria por cantarolar pássaros, aldeias de outrora e formigas por picar meus dedos, lembrando-me condição de vida. Abrigaria os meus transeuntes, os meus egoísmos, derrotas, e talvez para as vitórias cedesse um cantinho sujo de consciência e deveres. Recolheria restos de folha podre, largadas ao vento para que minhas faltas - palavras, sentido, olhar, outros, imagens das possibilidades perdidas, das lembranças que ainda persistem no tempo coubessem nos meios, intermédios desses espaços recém-projetados. Arduamente prepararia um fosso enorme para minhas paralisias, leros-leros, inconstâncias, machucadozinhos, besteirinhas, sintomas. Resolveria assim a questão: sem discussões, problematizações. Recuso-me a viver assim, demasiada entregue à algo, prefiro o estar dentro sem nem tanto pensar, apenas a cabeça baixa e coisas oscilando entre dentro e fora, dentro e fora, dentro e fora.